30 maio 2005

Será GPS?



Já não sei ao certo São, mas deve ter sido aí pelo final do quarto ano de casamento que as coisas começaram a amolecer. Justamente essas, Sãozinha.

Deitávamo-nos de pijamas vestidos. Apagava-se a luz, encostávamo-nos um ao outro e como mais uma rotina de final do dia, o pénis dele deslizava para dentro de mim e depois saía. E porém, ele amava-me São e expressava-o todos os dias quando eu chegava a casa na forma como me beijava intensamente com a língua a tocar-me o céu da boca, no modo como me agarrava a mão quando íamos para todo o lado fazendo da epiderme telepatia, nos diálogos intermináveis que mantínhamos a propósito de tudo e de coisa nenhuma, nos «Cartier Vendôme» e «Gauloises» que me trazia em memória de Paris, a cidade cuja língua nos uniu apesar de nenhum de nós ser dela natural.

Só que uma mulher não é de ferro Sãozinha e na hora de almoço ou nos finais do expediente mais urgente, dedicava-me a debicar um jovem colega bastante imaginativo no que concerne à geometria de corpos, ora encostados às estantes, ora encavalitados nos sofás do gabinete do fundo, ora amachucando caixotes nos armazéns de materiais, ora aproveitando o automóvel estacionado em locais inauditos. Conhecia cada centímetro do seu corpo tenro e macio que as minhas mãos liam ao ponto de notar a falta de qualquer borbulhita entretanto falecida. Os seus dedos e a sua língua tanto me palmilhavam que os meus mamilos ficavam autênticas cúpulas góticas e quando a penetração se iniciava eu era mais um escorrega de parque aquático. Só que fora desses espaços de tempo nenhuma cumplicidade transparecia do rigor profissional, da análise metódica dos processos, das palavras ditas em presença dos outros.

E por isto te pergunto São se o amor e o sexo são biologia, física, química, matemática ou um simples GPS?

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