13 maio 2006

Esquecida como estava dessas coisas a que muitos chamam intimidade, precisou de algum tempo para se sentir preparada. Começou por massajar os nós dos dedos. Depois olhou as mãos compridas e bronzeadas. Com um cuidado vagar, espalhou creme pelas mãos, envolvendo-as na sua suave textura.
Respirou fundo e sentiu-se como uma noiva quase virgem pronta para sair da casa de banho e mostrar-se em todo o seu esplendor ao seu amante.
Puxou o teclado mais para si e colocou os dedos sobre ele. Sentiu-lhe as teclas e agradou-lhe o formigueiro nas pontas dos dedos.
O primeiro texto saíu-lhe tímido, desajeitado, como se isso de escrever fosse para ela uma coisa nova.
À medida que o texto fluía, sentia que se perdia numa espécie de preliminar, daqueles demorados, daqueles a que se entregam os que vão a medo descobrir o que afinal é tão natural como comer ou beber.
Depois olhou a forma. As letras formando uma mancha escura sobre o fundo branco, a volúpia do prazer à flor da pele.
Sentiu-se bem e por isso sorriu. Para começo não estava mal de todo, afinal no princípio somos todos desajeitados.
Felizmente não doeu.

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