30 abril 2011

A posta que há cada vez mais histórias por contar


Está na natureza humana gostar de histórias. Tribos inteiras reuniam-se em torno de uma fogueira para ouvirem os seus anciãos nas narrativas de coisas acontecidas ou, tanto fazia, de ficções nascidas do acrescento de um ponto ao conto contado pelos pais dos seus avós.
Os melhores contadores de histórias garantiam um lugar de destaque nos tempos de lazer, eram protagonistas dos filmes que projectavam nas imaginações daqueles que entretinham, ora choravam, ora sorriam, com histórias de gente que podiam ser pássaros disfarçados ou deuses traquinas que desciam ao mundo real para matarem o tédio de uma eternidade nos céus.
As estrelas e a lua, fascinantes e misteriosas, cobriam o horizonte visual por detrás das imagens que os espectadores criavam na tela escura da noite, caçadores trapalhões que fugiam, eles as presas, da sua caça que os apanhava a jeito agachados nas suas precisões, feiticeiros poderosos que transformavam os inimigos em insectos rastejantes, mulheres bonitas que conduziam tribos inteiras a guerras sem quartel, vidas contadas ou apenas inventadas pelas mentes dos contadores das histórias que divertiam os outros e lhes transmitiam saberes, as suas morais, que os ensinavam a respeitar o que mais valia e a temer ameaças que nunca haviam enfrentado até então.
As histórias propagadas pela voz profunda de um ancião a cada um dos seus sucessores, os futuros transmissores do registo possível de vidas a acontecerem num mundo tantas vezes hostil, mas quase sempre generoso nas oferendas de coisas que alimentam as vidas.
Como as histórias, preciosas, que distraíam os homens das suas preocupações diárias com a sua sobrevivência e a dos seus, que lhes abriam as portas dos céus com as memórias de antepassados que dessa forma não eram esquecidos ou a lembrança de filhos perdidos sob os rigores de um inverno mais duro ou numa armadilha montada por uma tribo rival.
Os mais jovens, sedentos de diversão, ouviam as histórias com mais atenção porque delas sorviam aos poucos tudo aquilo que lhes poderia valer ao longo do caminho pela existência forrada a pontos de interrogação tão numerosos como as estrelas no céu que não sabiam explicar mas existiam porque os seus olhos as viam como aos rostos enrugados e aos sorrisos desdentados dos velhos que imitavam os búfalos que atacavam os caçadores desatentos ou abriam os braços como asas dos falcões que diziam transportarem as almas de heróis que sobrevoavam os campos de batalhas vencidas ou de derrotas sofridas ou apenas para poderem rever as suas amadas depois de a morte os levar para o outro mundo que não lhes permitia falar para contarem as suas histórias, enriquecidas ao sabor da passagem do tempo com as impressões mais marcantes ou as informações mais importantes que os mais sábios ou os mais espertos precisavam divulgar.
Sim, está na natureza humana esta sede de contar e de conhecer as histórias que continuam a exercitar a imaginação ou a perpetuar uma tradição mais teimosa, capaz de resistir à influência perniciosa do progresso sobre os hábitos antigos e os detalhes que não se querem esquecidos das origens que se queiram respeitar ou apenas porque não se podem perder rastos da passagem do tempo, sabedoria, que desvendam os caminhos do futuro nas entrelinhas das histórias de ficção que já não se desenham no céu estrelado mas ganham vida nas páginas irrequietas de um velho livro agitado pelo vento num jardim descrito numa história de amor ou mesmo por detrás do reflexo romântico da lua destacada pelo olhar por entre o brilho das palavras escritas num moderno monitor.

Horas

Necessidade de isolar um tempo
Inexistente
Num mecanismo infalível
De obstrução.

Tal como as cerejas
As horas enrolam-se
E partem-se em ânsia
De as saborear.

Revela-se então
A desoras
A tempestade imutável.


Poesia de Paula Raposo

E os gatos podem passar sete vidas nisto!







E se forem ao YouTube e procurarem por "cat breast" ainda encontram mais e mais e...

«Mulher deitada a fumar, com gatos»

Quadro a óleo sobre tela de 99x60 cm, de Gouvea. Este quadro atravessou o Oceano Atlântico para vir do Brasil para a minha colecção.
Não é uma obra-prima mas tem a sua piada.



29 abril 2011

na tua boca

danço nos teus lábios

em movimentos suaves

que me relaxam



danço na tua língua

em movimentos ousados

que me excitam


Corpos e Almas

Perdidos e achados

Não estava a dormir quando acordei e dei por ti, dei connosco, no meio da cama de ninguém. O meu tempo estava triste e cansado por ter feito tão grande corrida, por eu nem o ter visto passar, como sempre, e, como sempre, estava na hora de fazer alguma coisa, esperavam-me com vontade grande da minha chegada. Mas o tempo, esse de quem tanto nos queixamos, também é sensato, ele viu tudo e todos e aprendeu todas as coisas de agora e as de ontem e as de amanhã, o tempo vestiu-se do teu olhar e sorriu-me no brilho macio dos teus lábios, soprou mais um bocadinho no nevoeiro e eu vi a pergunta despida: "não queres começar a viver?". Bastou! E fiquei. Mais tarde dei por ti no meio da minha cama e, agora, dou por ti no meio da nossa cama; são milhares de ponteiros, meninos perdidos, os fios do teu cabelos, perderam-se do tempo e riem-se muito quando encontram as minhas mãos; cheiro-as, cheiram ao tempo quando me ensinou a morar entre o Outono e a Primavera, quando me ensinou a esconder-me dele debaixo do teu corpo, se eu não o vir, ele não me vê, se eu não lhe falar, ele não me responde, o teu olhar é uma venda, a cova entre o teu ombro e o teu pescoço é uma mordaça, não digo nada, nunca mais digo nada, só o teu nome, e o único ritmo, o único tic-tac, é uma redoma, é o estremecer de tudo teu em tudo meu até ao estremecer da Luz.


O Amor é lindo!



Realmente é verdade ... o amor é lindo, mas a caça ao homem, também. As mulheres balançam entre estes dois conceitos e é uma dúvida existencial tão antiga como a evolução do sexo, desde a Idade da Pedra.
Todos os homens querem desesperadamente fazer sexo com mulheres. Nasceram com uma deficiência congénita chamada “microchispe” que os obriga, desde célula embrionária, a terem erecções e irem para a cama com todas as mulheres que puderem.
Antigamente, os homem para terem sexo, ou casavam ou iam às putas porque sexo antes do casamento era uma miragem e eles, coitados, tinham de seduzir o sogro, a sogra, as tias e o gato antes de chegar ao cerne da questão. A vida seguia um trilho estreito e rectilíneo onde, eventualmente, poderiam surgir linhas convergentes mas também paralelas.
Chamemos-lhe então o padrão da sociedade primitiva.
Agora, o quadro é ligeiramente diferente, a evolução social foi-se alterando devagarinho até chegarmos ao padrão da sociedade permissiva o que significa que se pode ter cama sempre que se queira e isto aplica-se, tanto a homens como mulheres.
- Casamento?
- O que tu queres, sei eu
- União de fato?
- Nem pensar, os fatos custam os olhos da cara e eu prefiro gastar a 3ª via
- Então como é?
- Vamos simular o IRS e depois logo se vê
É óbvio que ainda se encontram homens com padrão primitivo mas esses, quem é que os quer? São feios, chatos, fazem férias no Allgarve, usam meias ridículas, cuecas de gola alta e passam o tempo todo a chamar-nos “mori”.
Todos os homens atraentes, disponíveis, inteligentes e ricos estão felizes que nem uns touros no meio de uma manada de vacas.
Eu cá sou muito exigente ... o que me motiva é caçar um gajo e mantê-lo em cativeiro até ele parar de rugir com saudades da selva, nem que tenha de o açaimar e dar-lhe umas valentes doses de sexo à bruta, para ele perder a mania.
A sociedade protectora dos animais fica fodida e lança-me um Habeas Corpus?
E eu ralada, dou o caso como devoluto e mando-os a todos pastar.
Gaja do sec XXI é assim, quando caça por alimento ou desporto e descobre que afinal, ele não corresponde aos requisitos, está sempre a tempo de o devolver à selva e recomeçar a caçada.
Mudasti? – perguntarão vocês
E eu, que adoro Ice Tea mas sou uma gaja com formação clássica, limito-me a dizer:
Mutatis mutandis e mainada!

Coração



O Coração é uma moita nas Paixões, onde um homem, obsessivo, estremece até às bases, a arder...
O movimento, entre laços, o sangue, abismado, nu lume das linhas, se cose.
Onde uma lima faísca, entre as ilhas do meu próprio corpo, onde o astro é somente uma queimadura, um incêndio, algures, uma ilha, na rapidez das formas. Aceso completamente.
Ataca-me. Num lugar interno. Ata-me, em desvios florais de amores que dão à luz poemas, bálsamos, deleites de mel, da minha sobre a tua, língua, encontro.
O fluxo dele se desenreda, árduo, árduo, numa bolha que rebenta alta na porta, no âmago!
Carne rude, coberta de poros a ligar-me entre os arquipélagos que, me unem, que são EU!
O ilhéu, se transborda na frase. Pintando o ar. Calcinado a vermelho, louco, louco como um gás rutilante, que bombeia Deus onde eu começo...

in Nu Âmbar da Minha Escrita

Felícia! Felícia! Onde estás, Felícia?

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Querida


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28 abril 2011

A pena


Anteriormente, em O julgamento:
Fez-se silêncio. Sepulcral. Assustador. E não aconteceu nada. Deixaram-no sentado, amarrado a uma cadeira com fita adesiva nos punhos e nos tornozelos, enquanto deixavam vagos os seus lugares no anfiteatro. A pena era, afinal, esta. A de conhecer os seus crimes e ser ignorado a seguir. O degredo.
O anfiteatro tinha começado a esvaziar-se. Havia o silêncio a preenchê-lo, tanto o dele, de pasmo, quanto o das suas acusadoras, que abandonavam ordeiramente o local, conferindo a tudo aquilo uma aura cerimonial, de passos bem coordenados, de entendimentos, de um procedimento muito bem estudado. Quando se sentiu sozinho achou por bem manter-se silencioso, mas começou a agitar-se na cadeira, tentando enfraquecer a fita que o segurava. Mas o esforço era inglório. Quando mais se torcia, mais a fita parecia endurecer, sem dar qualquer folga. Havia já a dor no corpo e uma sensação de desespero. Não sabia onde estava, não sabia que dia era, não fazia qualquer ideia de quando (e se) alguém viria socorrê-lo.
Decidiu parar. Baixando a cabeça, para se recompôr de uma respiração mais agitada, aguçou a audição. Detectou passos, vindos de trás, do sítio por onde tinham entrado com ele inicialmente. Não conseguia ver. Gritou por ajuda e balançou-se na cadeira para fazer ainda mais barulho, mas o empenho foi tal que acabou por conseguir tombar, caindo de lado, desamparado. Alguém o ouviria, por certo. E os passos estavam mais próximos. Tombado no chão, e ainda por cima de costas para a porta, não conseguia ver quem se aproximava. Os passos tornaram-se mais lentos e eram novamente saltos. Era mulher.
"Acreditaste mesmo que fosse possível deixar-te ficar aqui, ou deixar-te ir sem que pagasses?", atirou-lhe, quase trocista. A face dele transformou-se da dôr em espanto. "Tu?". Era ela. De pé, ao lado dele, preso à cadeira com fita adesiva. Com saltos altos, saia e casaco, as mãos na cintura, e o cabelo solto. Olhava-o quase sem expressão. Ao baixar-se, frente a ele, flectiu as pernas e nesse misto de provocação, enquanto um dos seus joelhos tocava o chão, deixava-o ver a linha das coxas entre a saia, e dizia-lhe "Não acabou". Correram outras mulheres em direcção àquele palco e pegaram na cadeira, puseram-na direita, e cortaram-lhe as fitas. Tentou debater-se, mas era escusado. Perdeu os sentidos ao mesmo tempo que sentia uma agulhada forte. Tinha sido sedado.
Veio a si totalmente despido, o que, já de si, era uma vergonha. Os seus encantos, como se havia percebido no julgamento, não eram de natureza física, excepto talvez pelas características do seu toque, mas ninguém ali parecia ter interesse nisso, ou em ouvi-lo falar sobre sedução, amor e sexo. Já não existiam fitas adesivas a segurá-lo a uma cadeira. Nem sequer existia uma cadeira naquela cave. Parecia-lhe uma cave porque não vislumbrava janelas. Estava deitado no que lhe parecia ser uma marquesa. Preparava-se para tocar o chão com os pés quando pela porta entraram mulheres. De novo aquelas mulheres que tinham estado em frente a ele durante o julgamento. Com uma diferença assinalável. Muito assinalável. Estavam tão nuas quanto ele. E assim se percebia porque raio estava tão quente aquele espaço, numa altura do ano em que o frio impera. E, ainda sem certezas, desconfiava ele que a coisa ainda ia aquecer mais. Não estaria longe da verdade.
Aproximou-se de novo a mulher que parecia dirigir as hostilidades. Despojada das suas vestes, como todas as outras. Disse-lhes "segurem-no". "Eh lá, tenham lá..." e nem sequer acabou a frase, porque foi de imediato agarrado e vendado, forçado a deitar-se e silenciado com uma mão que lhe cobriu a boca enquanto ela lhe dizia para estar quieto, que era melhor para ele - e bem mais rápido - aceitar o facto de estar em clara desvantagem numérica. Deram-lhe a tomar comprimidos, e poucos instantes depois sentiu uma vulva pousar sobre a sua cara, enquanto outras humidades lhe tocavam as pernas e o pénis. Vendado e perturbado, tinha dificuldade em entender o que era o quê, mas havia poucas hipóteses. Sabia-se rodeado de mulheres nuas, era óbvio que a intenção delas era ter sexo com ele. Algum tipo de sexo. Fazê-lo pagar pela falta de sexo de que o tinham acusado. E, agora, num contexto de humilhação, num formato forçado, fazendo-o entender que a vontade delas imperava sobre a dele, e que nem sequer era dono e senhor do seu desejo, da sua anatomia e função eréctil. Elas queriam, e iam ter.
Durante horas foi feito objecto. Não sabe se foram todas, ou quem foram, as mulheres que se fizeram penetrar por ele, que se esfregaram no seu corpo, que o forçaram a cunnilingus contrafeitos. Houve orgasmos, por certo. Aos seus ouvidos chegaram muitos gemidos de prazer, e ele mesmo não conseguiu evitar os seus, em alguns momentos. Tudo aquilo era, no mínimo, sinistro. A junção da tortura com breves momentos de genuíno prazer, apesar da falta de controlo e da negação de algo que teria sido fundamental se aquele fosse um contexto consentido: a imagem.
Acordou sentado dentro do carro, com as portas abertas e a chave do carro dentro do bolso. Pegou-lhe e rodou-a na ignição para ver as horas. O relógio marcava 05:55, e era ainda noite muito fechada. Parecia-lhe ser o único no estacionamento e sentia-se perdido. Não sabia o que estava a fazer ali, só se lembrava de ter estado num jantar com colegas de trabalho, mas sentia-se muito cansado. Ao ajeitar-se no banco do carro sentiu os músculos extremamente tensos, e uma dôr imensa na genitália que lhe causou um apreciável esgar de sofrimento. E até movimentar a cabeça era terrível, tinha o pescoço extremamente dorido, a língua magoada e a cara como se tivesse sido passada com lixa. Levantou-se a custo para sair do carro e olhar à volta, tentar compôr a roupa que lhe estava a assentar mal. Esticar-se um pouco. Ao fazê-lo, veio em sua direcção uma senhora. Jovem e composta. Perguntou-lhe se estava bem. Respondeu-lhe que sim e disfarçou dizendo que procurava as chaves de casa, que lhe deviam ter caído por ali algures. Ela sorriu e disse-lhe "já procurou no porta-luvas?", e afastou-se, caminhando rápida sobre os seus saltos altos, com saia e casaco e os longos cabelos ao vento.

no Metropolitan. sim. o Museu lá da Nova Iorque!


esta malta do antigamente era danada para a brincadeira... :)

Nortear a Viagem

Não sei como aconteceu.
Nasceu ingénuo e afirmou a sua posição. Reclamou o seu lugar dentro de um coração armadurado já habituado ao cinzento que as cores manavam.
Os momentos inexpressivos vividos ontem, o olhar da Lua sem sorriso e o Sol apagado, frio, morto... de súbito esfumaram-se. Desapareceram. Extinguiram-se.

Sentia antes uma emoção neutra sem rumo, despreocupada como um barco à deriva que inquieta o seu Comandante pelo destino incerto, mas nada mais existe ali, de bom ou de mau, nada, absolutamente nada!
E de súbito... a célebre ilha no horizonte e o alento do desconhecido a pautar o caminho... O que não se conhece é receado apenas por quem norteia o trilho.

Nem sei como foi...
Apenas nasceu e quis acontecer, impondo e preenchendo o espaço. Deu destino à imensidão que o peito exigia dar.

«Stand up!»

Campanha contra o bullying homofóbico dBeLonG, organização de apoio para jovens Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT), com idades entre 14 e 23.
A campanha promove a amizade entre os jovens, como forma de combater o bullying homofóbico.


27 abril 2011

A sentinela de papel


De vez em quando espreitava as memórias que guardava durante o tempo que queria acreditar suficiente para as tornar inofensivas, anestesiadas, dormentes como os braços onde sentia agora o formigueiro do sangue na sua circulação, a alma em ebulição que fechava na mesma gaveta, esse pedaço incandescente que tentava apagar no rescaldo por acabar como o percebia sempre que abria o peito à análise irracional daquele resíduo de emoção perigosa dentro de si.
Ficava sempre por ali, no silêncio compartimentado, estanque, de uma casa-forte sem oxigénio que pudesse alimentar aquela chama que não conseguia apagar e queimava a cada inspecção as pontas dos dedos do coração que queria vencer o combate quando tocava a rebate o sino de alarme, o alerta geral de que algo poderia correr mal com aquela labareda à solta.
Fechava à pressa a porta de acesso para se poupar ao risco de se queimar outra vez, uma saudade inflamável que servia de combustível para o lançamento de um foguetão que lhe atingia o coração como uma seta de cupido tresmalhada no meio do fogo cruzado com a cabeça que se esforçava para impedir a ocorrência, não perdia a consciência do perigo que representava a abertura daquela caixa de pandora interior.
De vez em quando tentava extirpar o amor, a paixão teimosa que se revelava ardilosa quando se fingia uma bela adormecida de pacotilha para montar uma armadilha, uma emboscada à traição com a sua força de emoção poderosa e sabedora das fraquezas, dos remendos aplicados como certezas de uma segurança afinal tão titubeante como a indiferença aparente que constituía a primeira linha de uma defesa formada por castelos de areia à mercê de sopros mais fortes do vento.
Ou de uma inexorável subida da maré.

Como diz a Kikas, o amor é lindo!

O poema mau

Ah, meu amor, eu quero lá saber,
eu só desejo muito, tanto, muito, escrever
coisas tão simples, lençóis brancos tão simples
banais, despidos, sem adornos ou enfeites,
ou só o mero colchão onde tu me deites,
coisas que possam ser apenas em si
porque eu, meu amor, quero escrever-te, sim, a ti,
ignorando até quem me possa ler.
Ah, meu amor, eu quero lá saber
que um mundo inteiro consiga ou não perceber,
quero lá saber se é mau, se não interessa
se tem erros, vírgulas pobres, se a palavra tropeça
aqui e agora, hei-de escrever-te como uma criança
ela aprende a palavra, eu soletro-te, sim, a ti,
e juntas escreveremos as cartas; eu cresci
certa de existir tanto mais por te aprender.
Ah, meu amor, eu quero lá saber!

Parênteses & preconceitos



Webcedário no Facebook

26 abril 2011

oh sãozita! a Beatriz voltou a fazer das suas



«Richard Metzger of Dangerous Minds (you may know him as founder of Disinformation, or as a BB guestblogger, or as the counterculture "Charlie Rose"), writes in with the odd story of a Facebook photo ban, and the media misinfo frenzy that followed.»

[ralhete na Beatriz, já!!]

Que susto ela apanhou!...

Intimidade

Como se nos conhecessemos
Desde sempre
Anos e anos de convivência
Desabafos
Confidências
Intimidade meiga
Crescente
Como a lua daquela noite
Palavras que não se procuram
Frases que fluem
Risos que vibram
Na aragem de final de tarde
Só nós dois
Num embalo de ternura
O sexo sem pressa
E eu presa em ti
Desatando-me
Docemente nas tuas pernas
Amor.


Poesia de Paula Raposo

O Continente também vende objectos que é suposto não serem eróticos




E já cá mora, na sexão de «peças que não era suposto serem eróticas».

25 abril 2011

O 25 de Abril visto pela Kikas

kikas http://fuckytales.blogspot.com/ mandou esta em 25/04/2011 às 17h:57m:
___________________________
O Rui também quis oder o 25 de Abril:

"Foi este desvario feminil
De tanto gostar de foder
Que em vinte e cinco de Abril
Nos pôs todos a gemer!
Passarinhas enrabadas...
Pilas em parada militar...
Tantas flores esmagadas
Por não se saber a quem dar!
Foi então que Abril fechou
Para mais uma época de saldos...
E a todos nos sentenciou
A muita broa e alguns caldos..."

Num referendo às partes, o sim tinha maioria absoluta


Ao contrário das coisas e dos coisos agarrados a nós, as passarinhas e as pirocas não tem qualquer dificuldade de comunicação. O segredo está na nossa sinceridade brutal, na nossa espontaneidade sem merdas. Uma passarinha jamais diria não quando lhe apetece dizer sim, pois ela melhor do que ninguém sabe quando é sim ou sopas. O mesmo se passa connosco, pirocas, que nunca diríamos não quando, é meu caso, por exemplo, até queremos sempre dizer sim.
No fundo connosco é pão, pão, queijo, queijo. Que é como quem diz se é para comer não vale a pena inventar fastio só para dar uma pala qualquer ou porque é assim que deve ser.
Mas deve ser porquê?
Se as coisas ou os coisos percebem, e não há como fazerem-se desentendidos nessas cenas, que as evidências reclamam determinada atitude não faz sentido optarem pela inversa.
Claro que a gente, lá em baixo, ouvimos as suas argumentações e as razões que julgam assistir-lhes e por isso estamos habilitadas, passarinhas e pirocas, a formular opiniões fundamentadas na lógica de ambas as partes interessadas. E não há grande volta a dar quando alhos e bugalhos entram num debate a sério em igualdade (forjada) de circunstâncias, às vezes com as questões teóricas a sobreporem-se ao que a prática tão bem releva.
Desabafava comigo há tempos uma passarinha velha conhecida que no fundo é um desperdício nós, equipamentos de série, sermos funcionais e prestáveis e depois termos a desdita de o destino nos agarrar coisas e coisos que pouco ou nada usam e/ou usam mal e porcamente estes utensílios ainda mais vocacionados para o prazer do que as bocas que usam tanto para disparatar e tão pouco para complementar o nosso trabalho e se constituírem as mais-valias que qualquer coisa ou coiso menos complicativos sabem bem avaliar.

Dia da Liberdade?! Dia da Liberdade seria poder fazer-se isto...

Viva o Dia da Liberdade!

Com Cravos... e São Rosas!

________________________
O Rui ode-me... os flatos:


"Com um peido, anuncia a alvorada!
Com dois, uma inauguração...
Para fermento, come mais uma queijada
E peida-te, sem saberes quantos são!

Inebriante cu aureolado,
De flores frescas, rosas de cheiro...
De flato jovem e bem pasteurizado
Que perfuma a manhã com nevoeiro!

Oh! Que doces nádegas eu abraço,
Botão de rosa que nasce neste beijo!
Virgindade que possuo e desfaço
No amplexo viril de um desejo!"

«Lumix FT3 - Crash Test»

24 abril 2011

Dos rendidos

O combate dos rendidos nos olhos deles; olhos os meus, ao mesmo tempo, nos espelhos deste café, ansiosa, quase receosa, certifico-me de que os meus não estão assim, não estão iguais. Não estão. Respirar novamente. Dizem que não há como a água do tempo para apagar a fogueira da vida que arde na lenha das esperas; muito espera quem algo espera para começar a viver. O meu único e último combate dos rendidos escolhi-o eu; talvez seja por me render que o não perderei. Eu já não espero mais, não espero mais, não espero mais nada, vou-me a ti, entro-te por qualquer fresta, qualquer espaço entreaberto e, já no centro, entendo, no último olhar para trás, que até pela porta me deixarias passar. Volto ao espelho. Nos meus olhos, o peito rendido sem combate e as tuas mãos olhar adentro, o teu corpo guardado no meu ou o meu guardado no teu, não sei, confundem-se. Olho os teus, incerta, e neles está algo sem água, sem mais esperas.


«Sonho desfeito» - por Rui Felício


Tinha esperado aquela oportunidade, sem nunca revelar as suas intenções, planeara tudo em segredo, e agora que ela se lhe deparara, não a deixou escapar.
Olhou para ela e não resistiu. Enlaçou-a, cobriu-a, assumiu um ar triunfante, e pensou consigo mesmo que, finalmente, tinha alcançado os seus desejos dissimulados durante muito tempo.
Pertenciam ambos ao mesmo extracto, completavam-se, mas ela sempre se lhe tinha esgueirado, oculta, sem se mostrar, como enguia escorregadia.
Não que ele lhe fosse indiferente, bem pelo contrário! Achava-o sedutor, bonito, um cavalheiro. Mas receava que a víbora da madrasta, vinda de uma poderosa família que dominava por completo o seu pai, lhe cortasse o desejo que ela também secretamente tinha de se juntar a ele, desfazendo-lhes os planos.
E os seus medos não eram infundados! O idílio só demorou alguns instantes, porque a poderosa madrasta, a manilha de trunfo, desfez-lhes o sonho e apressou-se, com um murro na mesa, a cortar a vasa formada pela Dama de copas e coberta pelo Valete de copas, naquele jogo de sueca.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações

"Vinde a mim as criancinhas"

crica para visitares a página John & John de d!o

23 abril 2011

4 CDs que comprei para a minha colecção

Por vezes, compro revistas só por causa de um artigo... ou mesmo de um anúncio.
Desta vez, comprei estes 4 CDs pelas suas embalagens. Mas também há por ali muitas músicas (e letras) bem interessantes:

Hecate - «The Magick Of Female Ejaculation»
Editora: Zhark International, 1992
As músicas fazem-me lembrar uma carroça sem óleos nas rodas numa calçada de paralelos, mas a capa, o livrinho e o próprio CD têm gravuras japonesas bem entesantes (sim, sim, eu disse interessantes):






Ordo Rosarius Equilibrio & Spiritual Front - »Satyriasis - Somewhere Between Equilibrium And Nihilism»
Editora: Cold Meat Industry, 2005
A capa é bem discreta mas reparem bem. Para quem não vê ali nada de especial, deixo uma das páginas interiores do livrinho que vem com o CD.
Tem músicas muito interessantes, numa parceria entre dois grupos. Por exemplo, «Your Sex Is The Scar», «Three Is An Orgy, Four Is Forever», «The Pleasure Of Pain»,...



Ordo Rosarius Equilibrio - «O N A N I - [Practice Makes Perfect]»
Editora: Cold Meat Industry, 2009
Esta é uma edição especial, numa caixa com fotos, um livro e um DVD com um video excelente do primeiro tema do CD: «Glory to Thee, My Beloved Masturbator» (não é preciso traduzir, pois não?). Também há outros temas bem curiosos, como «Let Me Show You, All The Secrets Of The Torture Garden», «Too Late For Innocence, Too Late For Regret (Four Hands Please Better Than Two)», «C U M, And Let Me Lead You Far Astray»,...



Spiritual Front - «Armageddon Gigolo'»
Editora: [Trisol] Music Group GmbH, 2006
Se a capa é um espanto, a contracapa do livrinho que vem com o CD é... fantástica!
Gosto especialmente das faixas «Love Through Vaseline» e «No Kisses On The Mouth».


Silêncio

Nada mais perturbador
Para os sentidos vivos
Que ainda sei sonhar
De que o silêncio,
Ao longo dos ponteiros
Dos relógios,
Nos calendários
Onde dias e noites
São cortados a fio
Sem remorso,
Com a caneta esfarrapada
De tanto uso insentido...

Nada de tão perturbador
Como o silêncio
Que compadece os sonhos
E os mata à nascença,
Deita-os no lixo
Sem remorso,
Em cobardia silenciosa.
Hoje,
QUERO QUE SE DANE O SILÊNCIO!


Poesia de Paula Raposo

Às vezes não me importava de ser saco de pancada...

22 abril 2011

Nunca é demais lembrar...

“Clitorizar”, rima com ar, com cantar, mamar, sonhar, lunar, beijar, chupar, mimar, sodomizar… e infelizmente muitas vezes não rima com prazer, nem com foder. É pena. É o que tenho a dizer.

E eu hei-de amar os teus fantasmas

Continuamos a enterrar os nossos mortos sem nunca conseguirmos enterrar os seus fantasmas. Sim, eu vejo-os, eu vejo os fantasmas, os meus, os teus, os nossos e os que ficam a segredar, sem dono, no vão de todas as escadas onde não soubemos esperar; esta é a verdade, a nossa verdade, eu vejo-os se não olhar para o espaço vazio; faz tão pouco tempo que decidi não me debater mais, nunca mais tentar enterrar as sombras, desperdiçar violência ao tentar conter debaixo de terra o que não tem pele por onde agarrar, o que passa entre todos os grãos. E vejo o teu olhar quando a fome te invade o corpo inteiro, vejo o teu olhar que me pede perdão, vejo-te hesitante, entre a máscara e o rosto nu, não consegues cortar o laço, quando te ofereces nunca o fazes sozinho, eles estão sempre e já ali, dizes que te desculpe, que te perdoe, que te deixe entrar mesmo assim, está muito frio no vão da escada. Mas eu sei, eu sei faz algum tempo, tantas vezes percebi, quando me deitava, que o toque frio não podia ser o teu joelho, que o toque frio não podia ser o teu. E continuo deitada sob ti, e saberás que abro mais os braços e ergo mais as pernas e aumento o espaço que há em mim; quando te enterras, assim, inteiro, em mim, enterras também, por momentos, todos os teus fantasmas; eu deixo-vos entrar, meio casulo, meio armadilha, enrolo-vos de braços à volta das costas, de pernas à volta da cintura, bem presos, são o peso morto do teu corpo vivo; quando vos beijo hão-de chegar ao fundo do fundo de mim. Não, não te vou perdoar, não não me peças que te perdoe, não entendo o que haja para desculpar; todos nós trazemos fantasmas e, quando eles nos agitam, alguém terá de os amar por nós e eu hei-de amar os teus.

Vida Guerra numa campanha da pETA (defesa dos animais)



O sonho comanda a... pila


Poção de namorada


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21 abril 2011

«Nu Âmbar da Minha Escrita» - segundo livro de Luisa Demétrio Raposo

Depois de «Respiração das Coisas», de 2010, esta alentejana de gema, clara e casca tem o seu segundo livro, «Nu Âmbar da Minha Escrita», publicado pela «Temas Originais».
Partilha com os cibernautas um espaço na internet, o seu blog Vermelho Canalha, onde publica poemas, cartas e prosas poéticas e eróticas.
Já teve a sua poesia lida pela nossa voz de ouro, Luis Gaspar, no nº 49 da Poesia Erótica.


Comecei agora a deliciar-me com os malabarismos de palavras que a Luisa Raposo faz e deixo-vos pequenos recortes que fiz de vários poemas, até à página 31:
Carta de Adeus no Íntimo - "sinto o toque, a ardência, nas partes mais carnais da minha própria morte..." (pág. 12)
Visões da Poetisa - "Gozo, contigo, a minha inocência, apalpo as palavras por ti, aqui entornadas em soluços, e sussurros de prazer. Eu sou assim, eterna escoada de motivações, as tuas, num quente silêncio que te pensa. Que para ti escreve ardentes pensares na mudez aterradora das palavras..."(pág. 16)
Visões da Poetisa II - "Só tu podes tocar na minha narrativa, com o teu sangue grosso, de árduo gargalo..."(pág. 18)
Alentejo Duro - "Erectas as nuas espigas o meu horizonte alargam, entre as pontas naturalmente amarelas. A Espiga, que o meu corpo abotoa à beleza horizontal, tão, potentemente ardente como um sol" (pág. 22)
Comer Com a Boca - "(...) Poro com poro, no poro do poro, e sempre em rotação mó...
Canduras. Vermelhas correm no teu sangue, excitado, no tesão que em ti voa, passa, come, no orvalhado que sentes desafogadamente, o corpo tudo expõe. Tão agudo. Nos montes. Nu estendal, grave, tentas manter invisível, o suco rebarbativo, lascivo, que queima. Quase... Quase... Doendo!...
A língua, enrosca-se tendo por égide, um pénis, em adoração. Tétrica convulsão, após o último beijo, que de tão maduro...
Splash!...
Rotação!...
Profundidade!... Deus!...
(e o orgasmo é aparição)
A boca. Nervo a nervo, a sorver a matéria, encharcada e nua atè às pálpebras, num delírio, louco, que ensopa o tecto, o soalho, e as minhas devassas fantasias..." (pág. 26)
Preconceituz - "[Não existe Deus sem tesão] (...)
A febre é um cio faminto, onde o magro coabita abaixo dos sistemas ditos morais, onde o pecado corta os pés aos homens e o clitóris às mulheres..."(pág. 29)
Vergonha - "Tudo pode ser duro e o tudo se pode foder com nada. Depende apenas das fomes que cada um tem..." (pág. 31)

Quem nunca espreitou que atire a primeira... pedra

A revista C nº 11 está disponível online

Para quem não pôde comprar a revista C da semana passada, com o artigo de capa sobre a minha colecção, já pode folheá-la aqui:


E digam lá: a minha Matilde não fez uma bela capa de revista?

«Xanadu» - série francesa do canal Arte sobre os bastidores do porno


Xanadu : le porno selon Arte por TELEOBS

Dietas



Webcedário no Facebook

20 abril 2011

A posta apreensiva

Recebi um dos maiores chuveiros de humildade no dia em que percebi que uma mulher, uma paixão, preferia dedicar o seu tempo a um jogo de computador do que ao contacto comigo.

Julgava-me apelativo, interessante, arrebatador. Pura ilusão. Um simples computador bastou para me bater aos pontos no confronto directo e eu senti essa derrota como uma goleada em casa, como uma humilhação.

Claro que essa experiência apenas desnudou a minha arrogância, exposta ao ridículo perante os factos que evidenciaram, na altura, o deslumbramento excessivo que me permiti por me julgar capaz de conquistas como as do passado, esse sim, recheado de vitórias que me resta recordar com saudade mas com os pés bem assentes no chão.

Hoje o meu Glorioso joga na Luz com o Porto.

E eu decidi que não gosto nada de associações de ideias palermas.

Eu, piroca, também falo de temas da actualidade

Uma das vantagens de se ser pila é passarem-nos ao lado estas crises de que toda a gente fala agora. Claro que, como de costume, falo por mim que cada piroca terá a sua própria consciência e uma opinião acerca destas coisas tão importantes para os coisos agarrados a nós que até já ouvi dizer que alguns perdem o gosto pelas nossas mais imprescindíveis utilidades.
O meu não perdeu, apesar de tanto se chorar da conjuntura malvada que às vezes o deixa sem ponta por onde se lhe pegue. Excepto a minha, claro, que contra as más influências externas possuo uma inviolável couraça.
Se não fosse pelo efeito bumerangue atrever-me-ia a dizer que alguns coisos agarrados a nós são uns pilas moles, sempre cheios de pretextos para deixarem os seus membros viris pendurados numa situação sem jeito nenhum.
Por acaso uma piroca pode ajudar a resolver a crise? Não pode, mesmo que o faça com agá. Mesmo tendo em conta as regras do mercado, nomeadamente a lei da oferta e da procura que tanto nos favorece, as mais afoitas e funcionais, nestes dias marcados pela negra estatística de 500 mil pirocas com disfunção eréctil (nossa senhora dos penduricalhos me guarde e proteja), a crise é tão profunda que não vão lá nem com um novo Manel25 ou 26 na Assembleia da República.
Assim sendo, para quê envolver as pirocas nestes assuntos tão deprimentes senão como uns antídotos sempre à mão para combaterem os estados de alma mais murchos e assim?

Massagem de elefante

Falso poema, poema em falso dos amantes

Tu entras e sais de mim e eu entro e não saio de ti;
para entrar tiveste de sair, para voltar tens de ir
e eu fico aqui neste jogo convulsivo de ganhar-te
e perder-te.
Sobra-te roupa, pendura-se em ti como num cabide, parece-me,
deve ter ficado mais espessa entre nós,
de repente adensou e parece recortada de uma parede.
Não, não te afastes enquanto te debates contra as mangas,
eu esperneio contra o tempo,
esperneio contra as paredes de tecido até à nudez tua
e o tempo enrolado nelas;
acabas-me com o último instante,
o único, o mais efémero de todos; talvez seja o que traz à memória
dos constantemente incompletos um tempo embrionário
antes dos tempos,
um tempo em que não conheciam essa estranha falta de si,
talvez separação de si mesmos,
saudade e vazio de um braço, uma perna,
um qualquer órgão interno desconhecido.
Depois submergimos, cada um viaja na sua direcção,
fundo, cada vez mais fundo até que,
horas mais tarde, quando chega o momento do Sol,
encontramo-nos a meio caminho,
damos as mãos
e voltamos à tona juntos, acordamos juntos,
olhos nos olhos acabados de abrir.

Olho de Tubarão

19 abril 2011

Shooting Well #10

Aborreci-me. Assumo que a dado momento me aborreci muito com a recepção que estas fotos tiveram n'A Funda São. Aborreci-me porque os pressupostos sobre os quais elas foram feitas pareciam não estar a ser entendidos, e se em alguns aspectos isso me parecia fruto da subjectividade dos gostos, em alguns outros parecia existir uma acutilância desproporcionada. Ponderei, verdadeiramente, solicitar que se interrompesse a divulgação das fotos, mesmo sabendo que as mais apelativas ainda estariam para vir. Falta de capacidade para aceitar críticas? Não. Teria gostado muito que me falassem das coisas que funcionavam, e daquelas que não funcionavam. Teria gostado que me tivessem dito que ângulos gostavam, que aspectos teriam melhorado, o que nunca teriam feito ou não gostariam, nunca, de ver. Era para mim perfeitamente claro, e assumido, que não era profissional nem coisa parecida. Sou - e provavelmente sempre serei - um amador. Um entusiasta que não vive das fotografias - nem da escrita - e que procura, sempre que pode, fazer aquilo de que gosta.

Fotografar Joana Well foi uma oportunidade assaz interessante. Foi, diria eu, também um salto de fé da parte dela. Poderia ter sido um desastre, e esse receio acompanhou-me sempre. Há quem comente, não sei se a brincar ou a sério, que uma sessão fotográfica tem de terminar em sexo. Há quem comente, não sei com que espírito, que a nudez tão próxima de uma mulher é garantia de excitação sexual. Fotografar Joana Well foi a antítese do sexo. O meu pensamento, naquelas duas, talvez três, horas em que estivemos naquele quarto de uma cidade portuguesa, esteve longe, muito longe do sexo. Nada em mim alguma vez se alterou. Lamento, mas nada entumesceu, nada tremeu. Apenas e só porque o peso sobre os meus ombros era muito grande. Eu sentia em mim a exigência de fazer aquela experiência valer a pena. Não só por mim, mas obviamente também pela confiança que a Joana Well havia depositado no meu olhar. A isso responde-se com respeito e com profissionalismo, mesmo que sejamos amadores.

Nunca tive, para esta sessão, a intenção de fotografar pornografia - e aqui sejamos objectivos e não apliquemos o conceito adaptado de pornografia que aqui reina. Nunca foi minha intenção plasmar aqui a vulva da Joana Well, as mamas da Joana Well, ou colocá-la aqui em poses de grande gratuitidade. A minha intenção foi sempre a de mostrar algo que tivesse beleza, tivesse pele, mas tivesse, sobretudo, classe. Algum tipo de classe. Quando me pareceu que isso não estava a ser lido assim, aborreci-me. Admito-o.

No conceito que levei comigo para aquele encontro, fotografias em poses estranhas (como a primeira), ou apenas um plano apertado das mãos, era algo perfeitamente normal e expectável. Fizeram-se muitas fotografias. A esmagadora maioria nunca verá a luz deste blog. Algumas das ideias ali exploradas pura e simplesmente não funcionaram. Por razões várias, de entre as quais talvez a minha inexperiência e a falta de algum material tenham sido das mais determinantes.

"Shooting Well" foi uma experiência de valor. Aprendi algumas coisas, espero, muito honestamente espero, que a Joana Well não tenha saído desta sessão defraudada, que não tenha sentido ter dado o corpo a uma falsa promessa, que as suas expectativas não tenham sido traídas. Eu estou-lhe grato. A ela, e ao homem-que-lhe-segurou-os-seios. E, é certo, estou também grato à São Rosas, que de algum modo, indirectamente, veio a criar condições para que isto acontecesse.

Eu saio disto satisfeito. Espero que vós, agora, também. Talvez um dia fotografe mais coisas (embora por agora esteja com vontade de fazer retrato, que é um tipo de foto de que gosto muito) e talvez um dia volte a colocar aqui as minhas tentativas de fazer com as fotografias aquilo que algumas pessoas dizem que consigo fazer com a escrita. Bondade vossa.

Que não seque o rio

Que não abrande o fulgor
Do teu gesto,
Nem a doçura do olhar quente
Na minha noite.
Que não se extinga a chama
Que me perpetua
Num sorriso simples.
Que regresses aos meus braços
Com o vento soprando
Tão brando,
Como essas palavras
Que me queres dizer.
Que não morra o desejo,
Nestes nossos beijos
E se for assim o fim
Eu quero morrer aqui,
Contigo a cantar.
Que não volte a solidão,
Que não apodreça em nós
A vida por viver
E que o rio não seque
Sem palavras.


Poesia de Paula Raposo

Conjunto de bule e quatro chávenas

Este conjunto estava esgotado. Mas não há nada como ter bons contactos internacionais para conseguir que esta maravilha da criatividade («The Naked Girls Teaset», da designer Esther Horchner para a Het Paradijs) já esteja bem aconchegadinha na minha colecção. Nem vos digo nada, só mostro:









18 abril 2011

Há por aí algum gajo que consiga explicar à kikas?

"Passa-se algo com os miúdos adolescentes que não entendo ... junto ao meu local de trabalho há uma escola secundária e um parque urbano, onde passo diariamente. É surpreendente a forma como elas atacam os putos, fazendo alpinismo por eles acima e rappel, por eles abaixo ... eles nem se mexem, guilhotinados entre um wonderbra que mal tapa o material mas reparo nalguns, um ar assustado, como se pedissem socorro baixinho ... Ainda não entendi se estão em estado de graça ou de asfixia mas ouvi uma gritar num decibel acima do razoável: "meu cabrão do , vai-te !"
kikas (a propósito disto)
____________________________
kikas: "Há dois episódios recentes que ainda me baralharam mais.
O primeiro aconteceu no meu prédio, onde mora um miúdo de 18 anos, estilo engatatão, educadíssimo e giro de cair pró lado. Cerca das 3 manhã acordo com vidros estilhaçados e uma grande algazarra, acontece que esse puto roubou a namorada a uma colega do liceu e ostensivamente levou a miúda a um bar onde desatou à marmelada em frente ao outro.
Depois da festarola o "encornado" não faz mainada ... faz-lhe uma visita surpresa e agarra-se à campaínha a chamar-lhe filho da puta e cabrão. Como ninguém lhe abre a porta, pega numa pedra e toca a partir o vidro da entrada.
Eu, que sou muito sensível a miúdos apaixonados e encornados, estive a conversar com o rapaz e ele, lavado em lágrimas, lá foi desabafando e perguntou se tinha de pagar o vidro. É claro que quem pagou foi a Cª de Seguros.
O segundo caso passou-se na Escola Secundária Bocage, onde uma rixa entre dois alunos por causa duma miúda causou um traumatismo craniano a um professor de Filosofia que tentou acabar com aquela zaragata passional.
Mas o que se passa com a miudagem do século XXI? Onde pára o Poliamor ou o SecondLove, estandartes afectivos contemporâneos que os paizinhos e as mãezinhas também, às claras ou às escuras, praticam alegramente? Será pedagógico ou terá um sentido inverso?
Eu acho que vou fazer um seguro multirriscos de responsabilidade civil para os meus 2 filhos e gostava muito que o Shark, que é expert neste ramo, me aconselhasse, tendo em conta a sua experiência profissional ou pessoal...
shark: "Não sei se o conceito de responsabilidade civil encaixa nas duas situações que descreves, Kikas, pois se no primeiro caso houve um acto de vandalismo deliberado e pelo qual só o próprio responde, não havendo lugar a qualquer tipo de indemnização no âmbito da RC, no segundo o dano é sofrido no contexto de uma perturbação da ordem pública e também este tipo de tumulto pode ser abrangido por cobertura própria e nunca pela RC que é - temos o seguro automóvel mais comum como exemplo - uma cobertura destinada a ressarcir terceiros por factos involuntários que possam ser imputados ao titular da apólice. No fundo é uma transmissão da responsabilidade para uma companhia de seguros, mas, atenção, por danos causados sem dolo...
Isto por miúdos: num caso e noutro, mesmo com seguro de RC, os responsáveis é que se baldavam à grande e os lesados iam receber ao totta se só estivesse em causa a responsabilidade civil.
Mas claro, esta é a minha interpretação da coisa..."
Joao: "Isso de um seguro de responsabilidade civil, efectivamente, não me parece nada mal pensado nos dias que correm."
De resto, em matérias de amor ou não, de jovens ou não, o que me parece que falta mesmo é educação."
São Rosas: "Eu acho que falta mais é «tomates»."
shark: "Tomates não seguro, seja a quem for. Excepto no âmbito de um seguro de colheitas. Mas dos grandes (o seguro, não os tomates)."
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