05 abril 2011

Do silêncio

No meio das minhas abstracções sempre moraram mais palavras do que imagens. E agora o silêncio fala, magnífico, daquilo que eu não consigo; não encontro palavras, sequer letras conhecidas, não consigo tornar esta concreta. E ele cai sobre mim - o silêncio ainda ofegante de tão jovem -, pesado, como um amante desesperado que lança o alvo de um lado para o outro, incapaz de imobilizar a presa, incapaz de a prender para a invadir, inteira, de uma só vez. Ficamos os dois neste jogo de alunos sem professor, eu e o meu demasiado jovem, demasiado impetuoso amante, eu e o silêncio acabado de nascer, filhos e órfãos das palavras; lançado pelos corredores da sofreguidão, ele falha-me o coração e golpeia-me o sangue nas tangentes uma e outra e outra vez; afasta-se e vai percorrendo todas as veias do corpo ao invés de se aproximar. É isso que acontece quando paraliso, olhos que vazam o olhar na tua direcção, não encontrei palavras para ti e o silêncio espalhou-se-me no sangue.


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