Eu tentei esconder um poema e as palavras abandonaram-me. As palavras fugiram de mim; castigaram-me pela ousadia de tomar decisões onde elas são soberanas, pela monstruosidade de rejeitar o que me ofereceram, por não ver que sou tão pequena, vazia, encolhida, fraca, perante elas e que sem elas, irremediavelmente, nada sou. Desobedeci a quem me faz, escondi o poema como se a escolha fosse minha, como se eu fosse senhora de escolher, como se elas não tivessem já determinado o que deveria ou não ser dito. Arrancaram-se de mim, deixaram-me num vazio cheio de segredos que ainda me vão fazer rebentar porque eu não quis contar que os tinha. Deixaram-me assim, uma semi-desalmada muda. Isto é o que me aconteceu por me julgar mais forte que as palavras. Isto é o que acontece a quem não sabe perceber que nunca será mais forte do que algo que tudo inclui. Coisas estranhas acontecem a quem não sabe o seu tamanho. Eu vim aqui dizer-vos que escondi um poema. Eu vim aqui confessar que guardo segredos que sempre guardarei mas que confio nas palavras, não preciso de guardar delas os segredos. Eu vim aqui falar para que as palavras voltem, para que me perdoem a ignorância. Eu vim aqui e hoje sou nada sem as donas de mim; eu vim aqui porque sou um fantoche das palavras e todos os meus cordões são umbilicais.
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Uma por dia tira a azia