14 setembro 2010

Vem-se aí o novo livro da Paula Raposo, «o verbo ser»


As palavras que a nossa Paulita nos dá a ler (ou melhor, vende, mas é um preço tão baixinho que é quase dado) incorporam cada vez mais uma carga erótica que, embora sempre tenha estado presente, ela dizia que não tinha. Mas isso foi antes de andar em más companhias (por estas bandas).

"NU

Se te falar de amor
Despida de palavras
Que me dirás
Da ousadia com que me visto?

Que pensarás
Da minha nudez eufórica
Ou da metáfora
Com que cubro
O âmago de todas as questões?

Talvez te surpreendas
E te cales indeciso,
Enquanto folheias
Mais que distraído
O jornal desportivo.

Quando me souberes ler
Poro a poro,
Eu continuarei a falar-te de amor,
Mas com palavras vestidas
E entrelaçadas.
E só as despirei quando tu
Quiseres estar presente,
Num rasgo de loucura
Tacteando o amor nu."

Ninguém melhor que o Grande Mestre OrCa para apresentar a Paulita e seu (em breve nosso) «o verbo ser». Aqui fica um excerto do prefácio:
"Paula Raposo (...) incorpora nos seus poemas o parceiro idealizado como interlocutor e a quem propõe, assumindo-o, transformá-lo também no seu leitor, em palavras quase ao rés da confissão no leito, falando afinal de si própria, em aberturas de alma muito apropriadas à linguagem poética (...).
Depois, o amor constrói-o ela de mar, de música, também de silêncios, num universo mítico onde dois seres apenas valem o mundo, por eles perpassando todo o bem e todo o mal, a quinta essência do que a todos nos enforma.
Eivado, cada livro seu, de desilusão, pois que o amor romântico – alerta-nos Pessoa no seu Livro do Desassossego – é um caminho de desilusão, logo ele se destempera e busca a redenção num erotismo exaltante, porque inevitavelmente é de corpos nus de todas as roupagens, em estádios diversos de amar, que aqui se trata...
(...) não me custou favor nenhum reiterar o que amiúde lhe venho dizendo quanto ao que me parece ser uma progressiva confiança, determinação e segurança patentes em cada novo poema que nos traz, unindo forma e conteúdo em enlaces de cada vez maior eficácia."

Jorge Castro

"CONVEXO

Deixa-me aninhar
No teu colo côncavo
Onde eu te beijo a boca
E a saliva se entranha
Nos poros de toda a paixão
Líquida do momento.

Porque o teu colo é um momento
E o meu momento
É o meu convexo de ti."


«O verbo ser», livrinho de cordel da Apenas Livros, vai ser apresentado no dia 30 de Outubro (sábado) pelas 18h, no Café Restaurante Jardim do Lago, na Av. do Lago, no Monte Estoril.

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