Não sei quem não disse. Nem sei o que não foi dito.
Empurro-te agora para o fundo de ti. (Empurrei?) É lá, no teu fundo,
que desejo que estejas (estiveste?) no dia em que escreveres o momento
em que estiveste entre as minhas pernas e te puxei para o fundo de mim. (Puxei?)
Não há palavras certas, esquece a escolha de palavras. (Esqueceste?)
Há palavras que gritam sem precisarmos de as gritar. (Gritei)
Há palavras que nos escolhem. (Sim, escolheram) Há palavras... Dorme mais... (Sim?)
Foi assim quando foi.
Não te falei da hora, falei? Perguntaste se podias e eu não respondi, só isso, sem te falar da hora. Sabes, há uma hora a que não se chega, é a hora que nos chega e não pode ser empurrada, chamada; ela é invocada e sente-se quando já é. Agora já sabes qual é essa hora, quando chegou apagámos o candeeiro e a Luz não...
Volto atrás. Não te respondi. Perguntaste se podias e eu não respondi. A hora ainda nada dizia e o meu corpo também não.
Vi-te adormecer. Vi-te descer até aqui; é lá que moro, no fundo que nas pessoas só costuma pertencer ao sono. Chamei-te sem gritar, uma vez só. Abri-te a porta para não te vender uma ilusão.
E o eco que nos ronda, pedintes rendidos;
um filme sem legendas, sem tradutor e as
palavras que fazemos não existir, perdidas, sobrevoam a cena. O beijo quando não o antecipas é o beijo que faz descer mais. Só no fundo de ti está quem és; deixa que me toque o lobo que no fundo, no fundo, és. Tomo o lobo por amante, deito-te a mão ao ventre pela garganta; tiro-te a roupa que as coisas humanas já se perderam de ti, vejo-te o pêlo. Agora podes; agora, quando entras, chegas. Entras e eu não fugi daqui, não fugi de mim; entras e tudo te consente. Agarro-te as garras, cravo-te os joelhos e a tua sombra dissolve-se na minha... Até agora.
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Uma por dia tira a azia