É bem provável que se falarmos apenas o nome
FEMEN, muitos serão incapazes de associar a que se refere este nome. Mas se falarmos nas "ucranianas loirinhas que protestam mostrando os seios", aí acho bem difícil alguém não saber nada a respeito.
Por um lado, não se pode negar que a forma de protestar gere bastante mídia. Em tudo quanto é lugar os peitinhos aparecem. Vejo, inclusive, como uma ótima campanha de marketing, e eficiente para divulgar o movimento. Neste quesito, não tenho do que criticar. As meninas fazem muito bem o protesto e ganham espaço na mídia.
Contudo, há algo que o movimento deixa a desejar. Diante de tanto holofote, onde fica o espaço para a divulgação das verdadeiras ideias do movimento? Tá certo, a mídia é a maior responsável por não focar a luta feminista, não debater o assunto em suas matérias. Mas isto não é nenhuma novidade para nós, é? E aí que, paralelamente, o movimento deveria atuar com ações mais práticas, ações que de fato tragam à sociedade mudanças. Ficar apenas no campo ideológico não traz nenhuma revolução.
O grupo está também representado no Brasil, e através do seu
site pode-se ver quais são as propostas de luta do movimento: desconstrução da imagem do seio como um objeto sexual e reconstrução de sua imagem como um objeto da luta feminista, tentando chocar a todos; reafirmação como um movimento neofeminista, fundamentado nas raízes do feminismo mas remodelando-o para fora das elites, indo além dos livros e do foco universitário; e o Sextremismo, tendo o movimento foco nas ações que mais atingem as mulheres em cada país.
A crítica
Alguns fatores levam-me a criticar o movimento, mas uma crítica construtiva para que o mesmo possa crescer e se tornar um movimento de verdade:
1) Assim como muitos movimentos de esquerda cometeram (e ainda comentem) erros ao se fragmentarem, devido ao seu sectarismo, o mesmo parece acontecer com o FEMEN. No Brasil, já existia um movimento chamado Marcha das Vadias, antes da vindo do FEMEN ao Brasil. Em vez de uma união, os dois lutam separadamente.
2) Dizem não ser um movimento elitista, mas, apoiando-se apenas na mídia e sem ações mais concretas, de forma alguma faz com que alguma mensagem seja possível ser captada em comunidades mais pobres ou conservadoras.
3) Não se colocam como um movimento nem de esquerda nem de direita. Aparenta ser mais um movimento alienado politicamente. Não existe essa não ser nem de esquerda nem de direita, ou como muitos se autointitulam: centrista, de centro. Não é possível ficar em cima do muro. Esquerda e Direita não significa estar situado fisicamente em um lado ou outro, mas, apenas uma analogia à luta que existe desde que o ser humano se entende como tal: a igualdade e a liberdade. Sendo assim, muitos podem pensar ser um movimento de esquerda, pois lutam pela liberdade e pelos direitos das mulheres, crianças e homossexuais. Mas, e na prática? Não fica muito claro!
4) A representante no Brasil, Sara Winter, é uma menina de 20 anos sem qualquer maturidade e capacidade para representar um grupo forte como o FEMEN, e que parece mais agir por impulso que por convicção, além de já ter sido defensora do integralismo (se ainda não defende um nacionalismo de direita). Agora diz não ter definição política (hum?). Sara já havia publicado um texto criticando o movimento Marcha das Vadias e a forma de protesto do grupo: "Você, menina, mulher, não deixe se enganar, liberdade de expressão é uma coisa, promiscuidade é outra". Tal afirmação foi feita em 2011 no blog Le Cult Rats.
5) A não crítica da mídia: concordo com o movimento de que é importante ter o holofote da mídia, afinal, é ela que está dando toda esta audiência ao FEMEN. Mas, daí a não tecer crítica aos meios que justamente impõem uma ditadura da beleza e fortalecem os preceitos machistas, soa um tanto contraditório. Sara Winter, por exemplo, já foi alvo de ensaio fotográfico sensual, feito por
Thiago Marzano.
O que pretendo é levantar um debate acerca do equívoco que alguns movimentos cometem. Cansei de tecer aqui críticas à esquerda brasileira e o seu desempenho em favor das forças conservadoras. E agora faço ao FEMEN, que espero que evolua e reflita sobre algumas de suas formas de ação, ou melhor, das suas formas de não agir.