Existem uma bolachas negras com um creme branco no meio, tipo sanduíche, a que as crianças costumam lamber o creme primeiro e comer as bolachas depois. Sim, passe a publicidade, são as Oreo, embora também haja algumas marcas brancas a imitar, mais baratas e parecidas.
Eu estava no computador a tentar trabalhar quando um dos meus enteados surgiu na sala totalmente excitado com uma dessas bolachas. Abriu-a e mostrou-ma com um brilho anormal nos olhos.
- Que foi? - perguntei.
- Esta bolacha tem muito mais creme do que o normal! - respondeu.
De repente senti um nó no estômago. Não sei quando é que perdi esta capacidade de ficar feliz com pouco, mas sei que, sem dar por ela, a deixei algures. Talvez numa notícia de televisão sobre uma guerra qualquer, talvez na morte dum amigo, talvez num Amor terminado. Já não me lembro. Talvez em vários sítios, um bocadinho de cada vez.
O miúdo ainda ali estava, a segurar a bolacha na minha direcção, à espera dum sinal qualquer que confirmasse a sorte grande que lhe tinha saído.
- Espectacular! - disse.
Vi-o a sair novamente da sala, aos saltos, numa corrida louca em direcção ao quarto. Estava a escrever um conto para crianças e parei, fechei o computador e os olhos. Procurei com urgência, nas memórias dos meus últimos dias, algo que me pudesse fazer assim feliz. O quotidiano desfilou à minha frente como se estivesse a jogar na máquina dum casino qualquer. Tomar café, beber uísque, pôr-me à janela, ver um filme, ler um livro, ouvir música ou comer chocolate. Nada me faz ter aquele brilho nos olhos.
Depois veio um beijo da Raquel, uma mão que lhe dou enquanto passeamos, um abraço quando chegamos a casa ao fim da tarde. Três lembranças em linha. Saiu-me o jackpot.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»