Oh Manela, eu quero lá saber do tempo. Quero lá saber se é uma hora, um minuto ou um segundo porque... há instantes melhores que a vida toda.
Recordo-me sempre daquele moreno de olhos profundos e risonhos com quem passei uma horas da madrugada a conversar sobre este mundo e o outro, a rir e a beber café de termos, enquanto esperávamos sentadinhos no passeio a abertura das portas para entregarmos a candidatura à universidade. De manhã, após depositarmos as ditas nas maõs das funcionárias responsáveis, saímos rapidamente para a rua e ala que se faz tarde que esta já passou. Parei e comecei a agradecer-lhe as horas divertidas, com um sorriso estampado de orelha a orelha. Ele encostou-me o indicador esquerdo a ambos os lábios, impedindo-os de mexer e retirou-o para o colar nos seus. Beijou a polpa do dedo e sem despegar os seus olhos dos meus recolocou-o na minha boca. Com ambas as mãos, puxou-me pela nuca contra si e eu ergui o queixo entreabrindo os lábios para absorver a sua língua e levantei os braços, para lhe remexer nos cabelinhos. A sua lânguida língua parecia chegar-me ao esófago e todos os pelinhos do meu corpinho se eriçaram. Ele descolou e, outra vez com o indicador, percorreu-me da base do pescoço até ao queixo. Mergulhou novamente na minha boca e os nossos ossos e músculos pareciam um imã na porta de um frigorífico. Depois, dissémos adeus com as palmas das mãos muito abertas como as dos desenhos que se mandam para o espaço em sinal de paz.
E Manela, eu nem sequer sei quantos minutos durou, tanto mais que como sabes, nem uso relógio no pulso, por causa da minha alergia a metais não preciosos.
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Uma por dia tira a azia