06 abril 2005

Cinco cantinhos


Achei piada quando ele me ofereceu três chupa-chupas vermelhos, para repor os originais e depois me apareceu na rua com um cartaz cujas letras garrafais confessavam «Gosto de ti, porra!».

Já antes, Sãozinha, enquanto lhe empastava a cara de creme branco, ele sugeriu que lhe afagasse o palhacito. Continuei a estender o creme com a mão direita e como se fosse canhota, espalhei os meus dedos, calmamente, para cima e para baixo, na forma que se desenhava sob as leves jardineiras de riscas. Acabei por me sentar ao seu colo, abraçá-lo com as coxas, dançando para a direita e para a esquerda, até visualizar que seria melhor ir buscar outras jardineiras secas para ele usar no espectáculo.

Depois, São, fomos experimentando sucessivamente, numa apressada e estimulante transgressão os cinco cantinhos da sala de ensaios, dos panos dos cenários, das cadeiras dos camarins, do chão de madeira do palco até aterrarmos numa inaudita cama colocada num quarto.

E aí Sãozinha, chegaram uns minutinhos para perceber que cinco minutos e cinco centímetros é manifestamente pouco.

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