01 abril 2005

Diário do Garfanho - 86

And I Wish I Were Stoned
No Tribunal, sento-me e oiço:
- Jura?
- Sim.
- Diga "juro."
- Já disse.
- Não, o senhor disse sim, não disse juro. Diga juro.
- Quando disse sim estava a dizer juro.
- Não interessa. Diga juro ou então não presta declarações.
- Eu digo mas as testemunhas não prestam declarações. As testemunhas depõem.
- Sim, senhor, um engraçadinho.
- Não sou engraçadinho, é verdade.
- É verdade mas não interessa. Jura ou não jura?
- Está bem, juro.
- Não me está a fazer favor nenhum. Diga juro, só, ou mando-o sair e ainda o condeno em multa por desrespeito ao tribunal.
- Juro.
- Muito bem, pode sentar-se. Então diga-nos lá o que se passou.
- Eu estava à beira da estrada à espera para passar, quando surgiu aquela senhora.
- A dona Ermelinda Teixeira Pereira?
- Sim, senhor.
- E depois?
- Ela perguntou-me se eu queria...
- Queria o quê?
- Foi isso que eu lhe perguntei.
- E ela?
- Perguntou-me se eu não queria...
- Não queria o quê?
- Foi isso que eu lhe perguntei, apenas com alteração do tempo verbal: "Não quero o quê?"
- E ela?
- Ela mexeu nas mamas...
- Nos seios?
- Sim, nos seios. Nos seios da outra senhora.
- Qual outra senhora?
- A Zita Dura.
- Mexeu nos seios da ditadura?
- Não, nas mamas da Zita Dura.
- Também lá estava?
- Sim, estava, se não estivesse era difícil mexer-lhe nas mamas.
- Nos seios.
- Sim, nos seios também.
- Mandem entrar a Zita Dura.Era esta?
- Era.
- E ela disse-lhe alguma coisa?
- Eu sou a Zita Dura.
- Nós sabemos, fale só quando chegar a sua vez.
- Foi isso, eu sou a Zita Dura e a outra apertou-lhe as mamas e perguntou-me "Queres gozar?"
- Com quê?
- Acho que era com a Zita Dura.
- E o senhor?
- Eu?
- Sim.
- Eu o quê?
- Gozou?
- Com a Zita Dura?
- Sim.
- Não, apalpei-lhe as mamas e disse que a Zita Dura já não era.
- O quê?
- Dura.
- Porquê?
- Porque estavam moles.
- E ela?
- Ela nada, deixou-se ficar.
- E a outra?
- A outra perguntou-me "Queres gozar?"
- Outra vez?
- Não, porque eu ainda não tinha gozado.
- Não, ela perguntou-lhe outra vez se queria gozar?
- Sim, perguntou.
- E o senhor?
- Com quê?
- Com quê o quê?
- Eu perguntei-lhe gozar com quê?
- E ela?
- Comigo.
- Consigo?
- Não, com ela.
- E gozou?
- Não.
- Porquê?
- Porque ela não era boa.
- Não era boa em quê?
- A dar gozo.
- E a senhora agente?
- Essa era melhor.
- Melhor em quê?
- A dar gozo.
- A senhora agente deu-lhe gozo?
- Sim, deu.
- Mas ela não deteve a dona Ermelinda Teixeira Pereira e a Zita Dura, essas duas putas?
- Sim deteve.
- E a si deu-lhe gozo?
- Elas serem detidas?
- Deu?
- Não, foi-me indiferente.
- E a senhora agente deu-lhe gozo?
- A senhora agente não foi detida.
- Sim, eu sei. O senhor disse que a senhora agente deu-lhe gozo. Deu?
- Deu.
- Literalmente?
- Sim, proporcionou-me prazer.
- Muito?
- Bastante.
- Mas quando foi isso?
- Antes dela deter as colegas.
- Colegas?
- Sim, a senhora agente estava a trabalhar sob disfarce.
- E cumpria a sua função?
- Com empenho, aplicação e denodo.
- E pagou?
- A quem?
- A todas.
- Não, só à senhora agente.
- Muito?
- Para o gozo, nem por isso.
- Então porque foram detidas a dona Ermelinda Teixeira Pereira e a Zita Dura?
- Eu tenho para mim que devia ser por exercerem mal a sua função mas parece-me que a principal razão foi por serem putas.

Garfanho

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