09 maio 2007

Agulha em palheiro


Ambos partilhávamos o gosto por pilas e os seus avisados conselhos sempre me foram mais úteis que toda a bibliografia e filmografia à face da terra e essa era razão suficiente para naquela noite irmos risonhos beber mais uns copos e dançar.

Só que ele chegou lá aflitinho e com um sorriso cúmplice para aquele menino traquina que ia espreitar o frigorífico fiquei à sua espera no balcão com um copinho facetado e duas pedras de gelo. Reparei que um moreno altaneiro me fixava tão intensamente que cheguei a alvitrar a hipótese de ter a braguilha aberta o que não era, de todo em todo, verdade.

Pé ante pé acercou-se a mim e vá de perguntar-me se eu não me lembrava dele e eu pois que não, abanei a cabeça. Mas ele começou a eriçar o som do seu aparelho bocal para crescer na insistência de que agora era fácil fazer de conta que não o conhecia, pois claro que já não sabia de nadinha e por mais que eu replicasse que morenas baixinhas há neste país às dúzias bem como milhares de caras semelhantes à minha, ele não desistia de reafirmar que se recordava de tudo muito bem e citar inúmeros locais que me deram a oportunidade de lhe confirmar que nunca o tinha visto nem mais gordo nem mais magro. Ele não queria dar o braço a torcer mas a chegada do meu amigo com o seu ar másculo de pêlos salientes e umas fartas sobrancelhas fizeram-no arredar mais que qualquer palavra.

Gargalhei da minha sorte por se revelar ilusória a convicção de que naquele bar mais frequentado por homossexuais teria sopas e descanso.

7 comentários:

  1. Ahahahahah
    Pois, pelos vistos há os bi e os que vão porque saberão que haverá mulheres disponíveis precisamente pela razão que dizes :-)

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  2. a menina não se terá esquecido da existência dos "bi" ??!!!

    Uma vez mais, gostei. Abordas um tema sério, com muita naturalidade, sem no entanto descuidares a pitadinha de tempero que caracteriza o que escreves...

    e até conseguiste "esticar-te" para 4 parágrafos... :)

    É sempre gratificante, ter-te.

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  3. Anónimo9/5/07 21:10

    ...e sete períodos !E fiquei a saber que num bar frequentado por homossexuais é suposto ter-se "sopas e descanso" ! A comunidade gay vai achar muita piada à sopa...e já nem falo da matahary...

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  4. Anónimo9/5/07 22:27

    Milhares de caras semelhantres, morena,baixinha,com um bi, a beber um drink, e a ser assediada, por um moreninho,(bi?)! E a ser salva por outro bi...
    Já vi isto fora desse bar!
    Milhões de caras semelhantes, moreno, alto, com uma garota de ocasião, a beber dois drinks, e a ser assediado por uma moreninha baixinha com milhares de caras semelhantes... Salvou-se pela fuga
    indo relatar isto ...para casa!

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  5. "É sempre gratificante, ter-te."

    caraças... não entendo que raio de engano foi este.. eu queria ter escrito: "LER-TE".

    :)... maria, as minhas desculpas...

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  6. Agora que calmamente voltei a reler tudo, redobrei o meu interesse pelo texto. Adoro o primeiro parágrafo. É fantástica a mensagem.

    Poderás na verdade ser a morena baixinha, mas, também não deixa de ser verdade... que as pessoas não se medem aos palmos...

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  7. Per acazo, melhér, já me aconatesseu star num bar de bishas a faser o meu ingate e vir uma lambisgoita stragar tudo cum uma piscadela de olhos....Irra cuma melhér fica puçessa....da-çe...

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Uma por dia tira a azia