18 maio 2007

Jantar de negócios


Disse-me que o jantar ia ser em grande e que eu devia ir muito bonita. Isso não seria problema, disse eu, mas o Vasco recomendou que caprichasse no decote, já que os atributos deviam sempre saltar à vista.
Ora bem. Não só fiz gala dos meus atributos como ainda fui generosa noutros pormenores que agora não vêm ao caso.
Sentados à mesa, a coisa prometia. Pelo menos a diversão estava à vista com as histórias a choverem de todos os lados. Impressionavam-me os relatos que eles faziam da caça às perdizes e a outras galinholas, embora me tocasse mais a caça às rolas por ser observadora e não me escaparem facilmente os atributos postiços das presentes. Os empresários tratam-se bem, pensava eu, enquanto esticava os dedos para olhar de novo o brilho que adornava o meu anelar. A meu lado o Valentim Matias, acompanhado por uma morena musculada, emproava-se todo a contar a cena do javali, enquanto encostava o joelho ao meu, por baixo da mesa.
Falava-se de dinheiro - compras, vendas, trocas, impressos e formulários, notários e secretarias – e de carros. O Vasco só pensava no Lisboa-Dakar, mas faltava-lhe o co-piloto. Tinha de sair dali a equipa, dizia ele.
Às tantas enfastiei-me. Não me soava bem a exibição verbal de tantos negócios, sendo que todos eles ostentavam a sua própria como sendo a mais potente e acabada viatura da criação. Os homens, vá lá saber-se porquê, adoram ostentar carros grandes, não sei que proporção encontram entre o tamanho das coisas que são das suas posses.
Ora de subsídios sabia eu, que já tivera amigos subsidiados em quantidade suficiente, mas … para comprar jipes?!
E ousei perguntar, em voz melada “mas Vasco, esbanjar assim esses fundos?”
“Não te preocupes, fofa, tu e estas meninas ainda hadem gozar de prazer no SPA que montei no Monte de Santa Quitéria” - e continuava: “as estufas já lá estão armadas, que aquilo é digno de se ver; só para plástico foram umas milenas; agora é plantar os tomateiros e deixar que o chão deia frutos; e se não der... quero lá saber!”
Arrepiou-me a perspectiva... mas o pior foi a fala com que o Vasco Nabo rematou a noite, quando pagou a conta: “não tênhamos ilusões: os fundos hadem cobrir isto e muito mais...”

11 comentários:

  1. ...e tênhamos, tênhamos...

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  2. que querem... por mais que procure, só me saem destes...

    ... mas se me viro para os intelectuais, os das boas palavras... a coisa ainda murcha mais!!!

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  3. ... ou seja, os das boas palavras, assanham-me mas não cumprem as expectativas; os dos "supônhamos" até têm cabadal... mas quando abrem a boca, quem murcha sou eu!!!

    É uma cruz pesada a minha!

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  4. Deia... tênhamos... hadem...
    Quem sabe se num futuro, por força do povo, estas palavras não estarão correctas?
    A língua é matéria viva. E não é tão bom?! 8)

    Se até no Abrupto, pelo próprio, podemos encontrar este tipo de erro…

    Deixa lá, Paixão, o dinheiro não pode comprar tudo. E tu, bem que poderias ter aproveitado a situação; enquanto observavas os tomateiros ou cavalgavas sem sela, poderias ter-lhe ensinado o verbo dar, ter e haver, de borla! E se ele alguma vez se enganasse, castigo com ele! Ou uma chibatadas no lombo, para nunca mais se esquecer.

    Creio que nunca mais cometeria os mesmos erros. Bom... Deliberadamente, talvez. :D

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  5. Fausta, D.Fausta, o que é que a mourama lhe anda a fazer...?Nada de chibatadas : ou leite de figo ou azeite com piripiri. E das duas uma: ou castiga-os bem castigados ou a inversa é capaz de ser bem mais verdadeira...E venha cá para cima, apanhar ar puro, ir às desfolhadas...vai ver que não me arrependo de a ter convidado...

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  6. E tu tás a ver se a Fausta escreve mais um post de desgraça às tua custas, não?

    :PPPPPPPPPPPPPPPPPP

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  7. Se isso acontecesse, superaria os Lusíadas...seria verdadeiramente épico...desde que tu tivesses um microfone e um bom lugar de bancada para coscuvilhares tudo...mas estou em crer que não perderia nenhum olho (como o Luís Vaz) nem se sentiria obrigada a regressar à moirama...peixe fresco do melhor para grelhar, leitãozinho sempre pronto, chanfana de cabra velha, espumante e velhos tintos da Bairrada para companhia, o Bussaco e o Vale dos Fetos, mais o Hotel, a Curia e os jardins, as Termas (tantas e para tanta coisa) e homens saudáveis, sem stress, com pouca parra e muita uva...Em Lisboa, onde se encontra disto ? E a falar bom português ? E ajoelhado, a seus pés, lendo-lhe Sophia e Eugénio de Andrade, e Ary dos Santos e O'Neill, e uma serenata como só em Coimbra se fazem...Matahary, mantém-te calma que isto (ainda) não é para ti...D. Fausta, voulez-vous ...?

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  8. ... ai que eu passo-me!!!!!

    valha-me deus!

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  9. ...passe-se aqui para cima (e a propósito, Deus também anda por estes sítios...) !

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