23 maio 2007

Na farmácia


Com quarenta anos feitos atormentava-o a perda da virilidade anunciada. Foi a tremer que chegou à farmácia para fazer o novo teste à próstata que, valesse-lhe isso, não se intrometia em territórios nunca antes penetrados.

O sorriso meigo da rapariga que atendia na farmácia encheu-lhe mais os olhos que o bracelete coruscante que ostentava no braço e o atingiu mal deu o primeiro passo naquele espaço. Ela era uma almofada repousante e tal pensamento remeteu-o para a observação detalhada do colo dela e do soutien branco que o tempo primaveril permitia assentar apenas sob a bata. Descobriu uma copa das maiores e mamas, senhores, mamas. Imaginou que as mãos não lhe chegavam para as amparar mas que podia esforçar os dedos em forma de tabuleiro e introduzir o seu fiel amigo entre elas, como o cuco de um relógio.

Sentiu aliviado os evidentes sinais exteriores de riqueza a sul do umbigo e pela primeira vez sentiu-se agradado com a expressão que há de tudo como na farmácia.

(Imagem © Ron English,
Marilyn Tits)