05 setembro 2010

Da Rosa na porta

Era aquela nuvem de perfume, densa, um vácuo da magia, que transformava o edifício numa forma feminina, lívida como a angústia.

Lá, o fim de tudo que olhava para nós - e o ar respirava a beleza cortante de uma rosa vermelha no seu único instante pleno, o instante que precede o caminho último sempre acentuado e brilhante aos olhos iluminados pela lucidez que o terror, sempre tão nítido, confere - finalmente. A imagem da morte traz-nos gazelas e prados. A imagem da vida traz-nos gazelas e prados. Nem uma nem outra. Aquela era a imagem de quem tem a lâmina no peito, a vida brilha deslumbrante se iluminada pelo sol chamado terror do adeus.

Posso morrer. Vão matar-me. Momentos antes a rotina pesava, os cinzentos cansavam, o cansaço desesperava e chamava o desprezo pelo fundamental. Agora, nesta última porta, nesta porta última de todas as portas, a lua na terra sente a fragilidade de um talvez derradeiro relance e avisa que é bela, que sempre o foi, tingida pela verdade de um olhar final e as sombras são encantadas, leves, dançam o silêncio do vento ténue que abraça as árvores e os oceanos existem em azul pleno, em ondas perfeitas, em faróis amantes.

O monstro foi-se embora e levou a lâmina. Fiquei. E a Lua nunca mais mudou...

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