08 março 2005
Corpo nítido
A casa de banho estava quente, húmida.
O vapor da água, que corria já na banheira, envolveu-a enquanto se despia.
No espelho, o vapor, formava uma mancha que não deixava ver o rosto.
Só o corpo se via, nítido.
Um corpo ainda alheio ao corpo.
Entrou na banheira, inclinou a cabeça para trás debaixo do chuveiro.
Levantou os braços e com os dedos abertos afastou o cabelo do rosto,puxando-o para trás.
A mão tocou o rosto de lado, acariciou-o.
A consciência do corpo começando a despertar na pele, sob os dedos.
Contornou os lábios, molhou-os.
Sorveu a água dos dedos tocando a língua.
A língua tocando os dedos. Bebendo a água nos dedos.
As mãos desceram pelo peito.
Envolveu os seios, sentiu o palpitar do coração no bico dos seios fechados nas mãos.
A água corria, escorria pelo corpo, quente.
As mãos caminhavam pelo corpo devagar.
Entreabriu as pernas, a água tocou-lhe as coxas.
Seguiu com as mãos o rio de água que corria nas coxas.
As mãos tocaram o desejo. E sentiu o desejo em si.
O desejo tornou-se liquido, como água.
O desejo correu como a água.
No espelho o vapor cobria já o contorno do corpo.
Um corpo já não alheio ao corpo.
Um corpo que se sentia corpo.
Um corpo nítido, palpitante, sob a água, entre as mãos.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Uma por dia tira a azia