Eu sei o que me perguntas. (Saberei?) Escuta, é tão boa a existência que se separa, sensata, em dois verbos: ser e estar. Permite-me, assim, generosa, que te explique isto que te poderia soar de outra forma a paradoxo; não o é: algumas vezes, eu estou triste mas, nas vezes todas, eu sou feliz.
30 junho 2010
Foda Nos Sentidos ( part II )
Como é o corpo?
No meu peito a terra treme.
Nudez, revela-se fazendo escoar os reprimidos rios, em mim. Sensações progressivas que a carne possui.
Resistir, atirar, correr, golpear, recuar...
Retiras os meus sapatos e entras sem receio.
Cresce o diadema na sombra que se esvai
dentro, num ângulo, onde a alma do homem que és, polígamo e lascivo, te vais matando na minha sede...
Abre-se lentamente a visão encantadora, de uma pele imaculada, a vulva, rósea e tão cheia...
... no toque comprimido do teu dedo indicador, o líquido oloroso que se vem, e desprende daquela pequena semente salgada de mel, dentro, de um mel misterioso, escorrente de uma boca escura...
Não me beijaste, nem sequer me tocaste com as mãos.
O sexo comprimiu-se e vagarosamente deixas-te escorregar, como se te fosses em mim ajoelhar. Genitália.
[contra mim num ferro quente em brasa contra ti]
Por vezes da direita para a esquerda, outras em pleno contrário ou em círculos, avançando com reprimida violência.
O fogo arranca de mim faíscas, cada vez que me movia, como se o desejo estivesse a acender um fogo entre duas pedras.
Olhos fechados, a sentir o membro e a concentrar nele...
... e no prazer dele, (que prazer) um rio num mar de escuridão onde todo o teu sangue é comprimido ao penetrar;
«Um... dois... um ... dois...»
A dança.
O ventre selvagem, constante e inconstante na tua bolsa de pele que oscila no bambolear, nos pêlos púbicos.
É dificil de agora imaginar. Calor ardente. O sentir na firmeza da carne.
[A simples lembrança dos teus dedos na minha nuca arrepia, corpo , arfante, recebia-te]
Todas as sensações dos sentidos, no teu beijo se resumem. Meus lábios acesos e estendidos, sabor subtil numa contrastante cor louca, o poder transcender!
Róseos medalhões que, nus, tocam o céu. Da minha boca, faminta, sedenta onde se desfazem os teus portáis misteriosos. Num beijo vermelho, que longamente possui as tuas entranhas. Nele impulsa, pulsa, suga, lambe, impulsa, pulsa e suga...
Sussurros desconexos, desfloram os seios, que se ofertam.
Coxas que se contraem.
Secreções. Espasmos ávidos, nas costas pálidas. A gozar, à deriva sem hora ou lugar. Fode-me agora sem pudor!
Agora!...
... continua a fazer, usa e abusa, quero afogar-me no prazer...
[Não é doentio, é apenas o delírio que me erotiza e me morde de tesão, deixando-me louca e confusa]
(A cópula na minha mente.)
Mãos, que escapam pelas escarpas do corpo e esculpem sensações, indecifráveis. A seiva a cada subida rega o círculo no meio de nós.
O sexo é um mundo fecundo, imenso...
... profundo, que de manso, procura o fundo, na vagina.
Sou um só desejo. Sou tua!
Somos um só em todos os sentidos...!
[Costumam dizer que os amantes seduzem, mas nunca a matar, e eu sonho contigo de corpo inteiro, nos olhos que olham para mim longamente numa penetração suprema]
Sinto, por senti-lo, tal prazer. Nos poros existe uma tal palpitação que me vem a ilusão de que vou explodir tudo em poemas...
A tua mão contém a minha, de momento a momento, teu corpo túrgido e deslizante desembarca no meu corpo fálico, ainda pulsante, fluindo ainda o êxtase mágico entre murmúrios e carícias...
[Para lá deste templo, deste quarto, desta cidade existe um mar, com areia, montes, e o brazido do Deus sol]
E existimos nós os dois.
Cerro os olhos, quando eu quero, perco-me em pingos incessantes que me fazem ser desejo, ser amor, corpo, alma e tesão...
Fiz amor com posse ou, por assim dizer, uma foda onde eu me rasguei toda;
«Olhos nos olhos, tua pele, minha pele, corpo com corpo, minha boca, na tua boca»
E tu infinitamente no meu íntimo, a tocar, a sentir, a gozar...
Na explosão do depois...
Numa chama arde, trémula, na ponta do cigarro, na sombra da mão que passeia lânguida pela minha pele. O teu suor, o meu suor de quem é?
Ali naquela hora, naquele exacto minuto adormeceu a poesia...
«O devaneio adormece mas a sedução, devassa, essa eu sei que irei sentir sempre em mim como um beijo ardente...»
Abri as portas de desejo simplesmente porque tu és e serás sempre um tesão que excita a minha ousadia. E eu serei sempre a tua fêmea, no cio.
No meu peito a terra treme.
Nudez, revela-se fazendo escoar os reprimidos rios, em mim. Sensações progressivas que a carne possui.
Resistir, atirar, correr, golpear, recuar...
Retiras os meus sapatos e entras sem receio.
Cresce o diadema na sombra que se esvai
dentro, num ângulo, onde a alma do homem que és, polígamo e lascivo, te vais matando na minha sede...
Abre-se lentamente a visão encantadora, de uma pele imaculada, a vulva, rósea e tão cheia...
... no toque comprimido do teu dedo indicador, o líquido oloroso que se vem, e desprende daquela pequena semente salgada de mel, dentro, de um mel misterioso, escorrente de uma boca escura...
Não me beijaste, nem sequer me tocaste com as mãos.
O sexo comprimiu-se e vagarosamente deixas-te escorregar, como se te fosses em mim ajoelhar. Genitália.
[contra mim num ferro quente em brasa contra ti]
Por vezes da direita para a esquerda, outras em pleno contrário ou em círculos, avançando com reprimida violência.
O fogo arranca de mim faíscas, cada vez que me movia, como se o desejo estivesse a acender um fogo entre duas pedras.
Olhos fechados, a sentir o membro e a concentrar nele...
... e no prazer dele, (que prazer) um rio num mar de escuridão onde todo o teu sangue é comprimido ao penetrar;
«Um... dois... um ... dois...»
A dança.
O ventre selvagem, constante e inconstante na tua bolsa de pele que oscila no bambolear, nos pêlos púbicos.
É dificil de agora imaginar. Calor ardente. O sentir na firmeza da carne.
[A simples lembrança dos teus dedos na minha nuca arrepia, corpo , arfante, recebia-te]
Todas as sensações dos sentidos, no teu beijo se resumem. Meus lábios acesos e estendidos, sabor subtil numa contrastante cor louca, o poder transcender!
Róseos medalhões que, nus, tocam o céu. Da minha boca, faminta, sedenta onde se desfazem os teus portáis misteriosos. Num beijo vermelho, que longamente possui as tuas entranhas. Nele impulsa, pulsa, suga, lambe, impulsa, pulsa e suga...
Sussurros desconexos, desfloram os seios, que se ofertam.
Coxas que se contraem.
Secreções. Espasmos ávidos, nas costas pálidas. A gozar, à deriva sem hora ou lugar. Fode-me agora sem pudor!
Agora!...
... continua a fazer, usa e abusa, quero afogar-me no prazer...
[Não é doentio, é apenas o delírio que me erotiza e me morde de tesão, deixando-me louca e confusa]
(A cópula na minha mente.)
Mãos, que escapam pelas escarpas do corpo e esculpem sensações, indecifráveis. A seiva a cada subida rega o círculo no meio de nós.
O sexo é um mundo fecundo, imenso...
... profundo, que de manso, procura o fundo, na vagina.
Sou um só desejo. Sou tua!
Somos um só em todos os sentidos...!
[Costumam dizer que os amantes seduzem, mas nunca a matar, e eu sonho contigo de corpo inteiro, nos olhos que olham para mim longamente numa penetração suprema]
Sinto, por senti-lo, tal prazer. Nos poros existe uma tal palpitação que me vem a ilusão de que vou explodir tudo em poemas...
A tua mão contém a minha, de momento a momento, teu corpo túrgido e deslizante desembarca no meu corpo fálico, ainda pulsante, fluindo ainda o êxtase mágico entre murmúrios e carícias...
[Para lá deste templo, deste quarto, desta cidade existe um mar, com areia, montes, e o brazido do Deus sol]
E existimos nós os dois.
Cerro os olhos, quando eu quero, perco-me em pingos incessantes que me fazem ser desejo, ser amor, corpo, alma e tesão...
Fiz amor com posse ou, por assim dizer, uma foda onde eu me rasguei toda;
«Olhos nos olhos, tua pele, minha pele, corpo com corpo, minha boca, na tua boca»
E tu infinitamente no meu íntimo, a tocar, a sentir, a gozar...
Na explosão do depois...
Numa chama arde, trémula, na ponta do cigarro, na sombra da mão que passeia lânguida pela minha pele. O teu suor, o meu suor de quem é?
Ali naquela hora, naquele exacto minuto adormeceu a poesia...
«O devaneio adormece mas a sedução, devassa, essa eu sei que irei sentir sempre em mim como um beijo ardente...»
Abri as portas de desejo simplesmente porque tu és e serás sempre um tesão que excita a minha ousadia. E eu serei sempre a tua fêmea, no cio.
[Blog Vermelho Canalha]
29 junho 2010
vamos levar um Arraial de Pride? vamos pois!
que tal começar por um super café Starbucks?
e irmos direitinho ao que interessa... straight to the people who are not straight !
encontrar pessoas que afinal conhecemos de outros carnavais... ARRAIAIS!
perceber que o arco íris é ABSOLUTamente fundamental e que gostamos é de cor e gente gira à nossa volta!
não tendo sido este o melhor ARRAIAL PRIDE de todos, ficam os meus parabéns para a organização e à ILGA Portugal por ter promovido uma acção de Filosofia para Crianças no Arraialito da Família.
sim, no ARRAIAL também se compram livros para crianças. o Arraial é de todos!
INÉDITO! Pela primeira vez uma foto da São Rosas na internet!
Foi o Alfredo Moreirinhas que a publicou no blog «Cabrito de Sicó». É o cromo nº 28 da colecção «Cromos do Nosso Bairro». Que honra. Até porque nem vivo naquele Bairro.
«São Rosas - a Lésbica»
«São Rosas - a Lésbica»
T-Shirt Moda Verão 2010 - Chegaram as Vuvuzelas!
Graças à preciosa dica do Sorrisos Em Alta , via Facebook, chega-nos esta original sugestão de moda para este Verão (isto é, passe a redundância, se o Verão realmente chegar a chegar). Um toque de humor e, dizem alguns, quiçá alguma malandrice, ideal para um passeio à beira mar ou para beber um copo com os amigos numa esplanada e que promete fazer sucesso!
O lado menos bom é que o portador da t-shirt arrisca-se a passar a ser conhecido como o "Vuvuzelas".
O lado menos bom é que o portador da t-shirt arrisca-se a passar a ser conhecido como o "Vuvuzelas".
Inevitável
Inevitável:
pensar em ti,
mesmo não querendo.
Morreste, deixaste-me perdida
e perdeste-te de mim.
Continua a ser inevitável
-apesar de-
pensar em ti.
Alegro-me: sinto-te aqui.
É bom.
Regressas e - mesmo não querendo-,
és tu, ainda
e sempre.
Uma inevitável evidência.
Poesia de Paula Raposo
pensar em ti,
mesmo não querendo.
Morreste, deixaste-me perdida
e perdeste-te de mim.
Continua a ser inevitável
-apesar de-
pensar em ti.
Alegro-me: sinto-te aqui.
É bom.
Regressas e - mesmo não querendo-,
és tu, ainda
e sempre.
Uma inevitável evidência.
Poesia de Paula Raposo
28 junho 2010
“Clitorizar”, porque aquilo que não há, tem que se inventar! Do século XXI não passa!
No princípio era o Verbo”!
O termo clítoris procede do grego antigo “kleitorís”.
Assim de forma muito sucinta, após um prolongado eclipse, o conceito é reintroduzido na medicina no século XVI, seguindo-se novo e longo período de “desaparecimento” para voltar a ser reintroduzido na medicina do século XIX, genericamente em notinhas de rodapé, a par de raciocínios nada auspiciosos ao prazer sexual, quer de mulheres, quer de homens, mas sobretudo de mulheres, até por fim, infelizmente de forma metafórica, “cair nas bocas do mundo” por ocasião da “revolução sexual feminina” das décadas de sessenta e de setenta (do século XX, claro).
Na antiguidade clássica grega (uma civilização que eu classificaria, por oposição à nossa, extraordinariamente avançada para os recursos tecnológicos disponíveis, sendo a nossa: extremamente atrasada apesar de dotada de incríveis recursos tecnológicos) a par do termo “kleitorís” coexistia o verbo derivado “kleitoriázō”, que eu, mesmo sem saber nada de grego, farei desde já equivaler a “clitorizar”.
Ei-lo, pois, renascido ao cabo de uma “caterva” de séculos! “Clitorizar”, do grego “kleitoriázō” que significa “acariciar o clítoris para produzir prazer”. Mais vale tarde do que nunca!
Caríssimos, senhoras e senhores, façam o favor de o fazer aparecer no dicionário com a maior brevidade possível!
Muito obrigada!
O termo clítoris procede do grego antigo “kleitorís”.
Assim de forma muito sucinta, após um prolongado eclipse, o conceito é reintroduzido na medicina no século XVI, seguindo-se novo e longo período de “desaparecimento” para voltar a ser reintroduzido na medicina do século XIX, genericamente em notinhas de rodapé, a par de raciocínios nada auspiciosos ao prazer sexual, quer de mulheres, quer de homens, mas sobretudo de mulheres, até por fim, infelizmente de forma metafórica, “cair nas bocas do mundo” por ocasião da “revolução sexual feminina” das décadas de sessenta e de setenta (do século XX, claro).
Na antiguidade clássica grega (uma civilização que eu classificaria, por oposição à nossa, extraordinariamente avançada para os recursos tecnológicos disponíveis, sendo a nossa: extremamente atrasada apesar de dotada de incríveis recursos tecnológicos) a par do termo “kleitorís” coexistia o verbo derivado “kleitoriázō”, que eu, mesmo sem saber nada de grego, farei desde já equivaler a “clitorizar”.
Ei-lo, pois, renascido ao cabo de uma “caterva” de séculos! “Clitorizar”, do grego “kleitoriázō” que significa “acariciar o clítoris para produzir prazer”. Mais vale tarde do que nunca!
Caríssimos, senhoras e senhores, façam o favor de o fazer aparecer no dicionário com a maior brevidade possível!
Muito obrigada!
[blog Libélula Purpurina]
O amante quebrado
Antes, quando estava na luz, lamentei-me por ter sempre uma sombra. Agora, no escuro dos que não reconheceram o brilho da luz , eu sou uma sombra.
27 junho 2010
eu depois conto-vos tudo... «tim tim por tim tim»
@ arraial pride 2010
Sim, fui até à Praça do Comércio levar um Arraial de Pride!
em breve, conto-vos tudo ;)
Prisioneiro
O tempo começa a fugir
-sente-se na pele e nas entranhas-
e essa fuga é assustadora;
magoa a alma,
marca o físico
(sem possibilidade de marcha atrás);
mas, estimula,
uma outra parte de nós:
levanta-nos o ego
-e à volta -,
numa cadência eterna
é o eterno fugitivo
prisioneiro...
Poesia de Paula Raposo
-sente-se na pele e nas entranhas-
e essa fuga é assustadora;
magoa a alma,
marca o físico
(sem possibilidade de marcha atrás);
mas, estimula,
uma outra parte de nós:
levanta-nos o ego
-e à volta -,
numa cadência eterna
é o eterno fugitivo
prisioneiro...
Poesia de Paula Raposo
Armaduras
Olho-te nas mãos. As mãos assim tão fechadas
que sufocam os dedos,
mesmo brancas falam por si, dizem-se comprimidas
em esconderijos demasiados pequenos,
Agora que vi as grades, as pestanas cerradas
nos olhos; eles querem ver, tolos,
aos lábios;
amordaçados
que sufocam os dedos,
que os queres mudos.
Ficamos longe, os dois. Sorrimos e as falangesmesmo brancas falam por si, dizem-se comprimidas
em esconderijos demasiados pequenos,
absurdos.
Agora que vi, nada aqui poderá ser como antes.Agora que vi as grades, as pestanas cerradas
nos olhos; eles querem ver, tolos,
assim fechados,
as meninas tão doces. Elas perderam-se rentesaos lábios;
afinal, sabem, nunca foram beijadas;
os olhos nunca choraram ou riram,amordaçados
pelos dedos sem palavras que nas mãos escondes.
E eu? Eu nunca serei capaz de abraçar armaduras.26 junho 2010
Agudo
Se ao menos a fome me desse uma janela, eu poderia entrar em tua casa.
Se ao menos os meus dedos te abrissem as portas, te abrissem o corpo e mais que o corpo nu e derrotado me desses; ágil, agudo, maldito, em balanços no meu corpo que é ramo, e tu, sempre tão senhor dessas árvores, arrancas vontades como raízes para se enrolarem no teu tronco já manso desse cheiro que tinge.
Vem, não me faças cair mais que pontuações; não me tires também o sentido. Não. Sim, tira.
Não me queres mudar a cor, agora? Só fome e palavras e paixão? Seja, aceito-te assim mesmo, nesta derrota a três: a minha, a tua, a da fome para além da fome. A derrota aumenta os nãos, os nãos aumentam as fomes, as fomes fazem estremecer as mãos que procuram, afogadas em dedos, ancorar na nudez.
Que seja assim, como queres, que seja apenas a fome que encosta a testa ao ventre das árvores; nunca a encostará às raízes. Porém, será - prometo que não sempre - aguda.
Se ao menos os meus dedos te abrissem as portas, te abrissem o corpo e mais que o corpo nu e derrotado me desses; ágil, agudo, maldito, em balanços no meu corpo que é ramo, e tu, sempre tão senhor dessas árvores, arrancas vontades como raízes para se enrolarem no teu tronco já manso desse cheiro que tinge.
Vem, não me faças cair mais que pontuações; não me tires também o sentido. Não. Sim, tira.
Não me queres mudar a cor, agora? Só fome e palavras e paixão? Seja, aceito-te assim mesmo, nesta derrota a três: a minha, a tua, a da fome para além da fome. A derrota aumenta os nãos, os nãos aumentam as fomes, as fomes fazem estremecer as mãos que procuram, afogadas em dedos, ancorar na nudez.
Que seja assim, como queres, que seja apenas a fome que encosta a testa ao ventre das árvores; nunca a encostará às raízes. Porém, será - prometo que não sempre - aguda.
Mãos e pilas - 8 pequenas peças... digo, piças pela Milena Miguel
Já conheço a Milena Miguel e o seu marido (casal que está à frente do Atelier S. Miguel, no Formigal, perto das Caldas da Rainha) há vários anos.
Como é já tradição, este ano a Milena também me fez umas peças especialmente para a minha colecção. Desta vez, oito miniaturas aproveitando e dando ainda maior realce aos detalhes que ela tanto gosta de mostrar em peças maiores.
E, desta vez, até foram oferta.
Obrigada, Milena!
Como é já tradição, este ano a Milena também me fez umas peças especialmente para a minha colecção. Desta vez, oito miniaturas aproveitando e dando ainda maior realce aos detalhes que ela tanto gosta de mostrar em peças maiores.
E, desta vez, até foram oferta.
Obrigada, Milena!
25 junho 2010
Foda Nos Sentidos ( part I )
Sou um reflexo rasgado, um cenário árduo e profundo...
E quanto engano ou quanto escondo nos meus simples dizeres;
«Duas da tarde e as palavras ficam sem ar... »
Ar quente. Abafado. Corpo. Fogo, visão, quente e começo a despir-me ao som das tuas palavras. Lentamente cobrem-me os poucos de todas as minhas curvas, e no embalo da ilusão, o meu olhar cavalga sofrego no dorso dos teus lábios.
Duração eterna dos sentidos, os lábios falam-te por mim. Devasso-te no corte duro, no olhar, duração eterna numa foda dos sentidos.
A minha vagina espasmódica recita-te o desejo, poesia, sinais que no teu olhar provocante, procura a minha mente. O corpo pulsa, ao toque dum olhar, que estremece;
«Eu sou, tua, nua, (agora) no sentir, a sentir, (no agora) tu, no meu íntimo»
Manso púbis deslisante nos meus seios, tecendo a sombra, desejo, na vaga dos teus dedos semipétricos, pulsantes. Olhos que olham longamente, olhos que engolem imperiosamente.
Toque ardente da pele. O sentir das secreções, momento a momento, as mãos imorais sentem o odor nos palavrões anais, vaginais, esses pequenos orifícios onde reluzem os nossos poemas.
Supremas penetrações onde me enlaça a alma, nada dizes;
«Nada oiço, (agora) lábio a lábio... boca com boca (no agora) haste louca, a glande leve... húmus, (é isso) calidez, cio»
As palavras soam líquidas, deleitosas, na greta da gruta. A minha mente não pode ficar de quatro e agachar-se, ou esgueirar para gozar, muito menos num lugar público fora da zona de qualquer página ou de qualquer texto, e estourar-se nos limites de uma foda.
No silêncio baço do espelho o teu olhar pressinto. O tesão é brisa nua. Luz mordida, adoro-a no avesso.
O fogo corre, de veia em veia, não oiço...
Frémito que embala, perdido sem ar.
Feliz de mim quando penetro o mistério, o teu corpo sem penitência ou decência.
«Se queremos sentir a felicidade de amar, devemos fundir-nos com a alma e só assim encontraremos a satisfação»
A conversa terminou, cravando-me os dentes...
O quarto é um templo onde me torno Deusa, e nesse mesmo instante sou somente;
«boca, pele, pêlos, línguas, boca»
A tarde amanhece sem versos, com a música no teu hálito ofegante, poesias brotam de dentro de mim;
Breves os segundos onde me despi do pudor e sou agora feliz.
Tuas mãos desvendam o cigarro, na chama da semente, mãos que tentam esconder o segredo, olhando para mim calando o silêncio sem precisar de dizer mais nada.
Quero que me possuas inteira, corpo e alma transformando meus segundos, em fecundos infinitos de êxtase e prazer num encontro total;
«Como dizer-te?»
Como abrir a boca, e dizer-te que chove sobre o meu cio, que as minhas pernas se prendem à tua serpente. Presas em duelo.
A minha despudorada arma anseia o teu cálice de sémen;
«Calma, calma a confusão prossegue pele a fora, daqui a pouco gozamos, bem perto do osso»
Eu (penso).
Os teus passos descobrem todos os caminhos do meu, e eu quero estar onde te mergulhas em mim, onde é suposto supostamente proibido passar, onde o ar é vidro ardente, e as labaredas te torram a língua;
A macieza dos passos, no chão, vão subindo... até onde?
Como é o corpo?
E quanto engano ou quanto escondo nos meus simples dizeres;
«Duas da tarde e as palavras ficam sem ar... »
Ar quente. Abafado. Corpo. Fogo, visão, quente e começo a despir-me ao som das tuas palavras. Lentamente cobrem-me os poucos de todas as minhas curvas, e no embalo da ilusão, o meu olhar cavalga sofrego no dorso dos teus lábios.
Duração eterna dos sentidos, os lábios falam-te por mim. Devasso-te no corte duro, no olhar, duração eterna numa foda dos sentidos.
A minha vagina espasmódica recita-te o desejo, poesia, sinais que no teu olhar provocante, procura a minha mente. O corpo pulsa, ao toque dum olhar, que estremece;
«Eu sou, tua, nua, (agora) no sentir, a sentir, (no agora) tu, no meu íntimo»
Manso púbis deslisante nos meus seios, tecendo a sombra, desejo, na vaga dos teus dedos semipétricos, pulsantes. Olhos que olham longamente, olhos que engolem imperiosamente.
Toque ardente da pele. O sentir das secreções, momento a momento, as mãos imorais sentem o odor nos palavrões anais, vaginais, esses pequenos orifícios onde reluzem os nossos poemas.
Supremas penetrações onde me enlaça a alma, nada dizes;
«Nada oiço, (agora) lábio a lábio... boca com boca (no agora) haste louca, a glande leve... húmus, (é isso) calidez, cio»
As palavras soam líquidas, deleitosas, na greta da gruta. A minha mente não pode ficar de quatro e agachar-se, ou esgueirar para gozar, muito menos num lugar público fora da zona de qualquer página ou de qualquer texto, e estourar-se nos limites de uma foda.
No silêncio baço do espelho o teu olhar pressinto. O tesão é brisa nua. Luz mordida, adoro-a no avesso.
O fogo corre, de veia em veia, não oiço...
Frémito que embala, perdido sem ar.
Feliz de mim quando penetro o mistério, o teu corpo sem penitência ou decência.
«Se queremos sentir a felicidade de amar, devemos fundir-nos com a alma e só assim encontraremos a satisfação»
A conversa terminou, cravando-me os dentes...
O quarto é um templo onde me torno Deusa, e nesse mesmo instante sou somente;
«boca, pele, pêlos, línguas, boca»
A tarde amanhece sem versos, com a música no teu hálito ofegante, poesias brotam de dentro de mim;
Breves os segundos onde me despi do pudor e sou agora feliz.
Tuas mãos desvendam o cigarro, na chama da semente, mãos que tentam esconder o segredo, olhando para mim calando o silêncio sem precisar de dizer mais nada.
Quero que me possuas inteira, corpo e alma transformando meus segundos, em fecundos infinitos de êxtase e prazer num encontro total;
«Como dizer-te?»
Como abrir a boca, e dizer-te que chove sobre o meu cio, que as minhas pernas se prendem à tua serpente. Presas em duelo.
A minha despudorada arma anseia o teu cálice de sémen;
«Calma, calma a confusão prossegue pele a fora, daqui a pouco gozamos, bem perto do osso»
Eu (penso).
Os teus passos descobrem todos os caminhos do meu, e eu quero estar onde te mergulhas em mim, onde é suposto supostamente proibido passar, onde o ar é vidro ardente, e as labaredas te torram a língua;
A macieza dos passos, no chão, vão subindo... até onde?
Como é o corpo?
[Blog Vermelho Canalha]
O silogismo da queda do cavalo ou "silojoanismo"
Os homens não se medem pela carteira. (Esta parte eu já sabia)
Os clientes são homens. (Pois, também já tinha percebido)
Logo, os clientes não se medem pela carteira. (E agora, alguém me explique como é que levei nove meses a perceber esta?)
Os clientes são homens. (Pois, também já tinha percebido)
Logo, os clientes não se medem pela carteira. (E agora, alguém me explique como é que levei nove meses a perceber esta?)
Confissões
Os meus poemas são as minhas confissões:
não tenho que me confessar.
Quando escrevo - confesso-me (?!)-
deixo um pouco de mim;
longe de uma confissão,
este é um (es)pasmo
que não quero analisar.
Não me confesso;
mas de mim deixo
- mais de metade -
inimagináveis promessas
(prováveis sentimentos),
que não cabem em palavras.
Por agora.
Poesia de Paula Raposo
não tenho que me confessar.
Quando escrevo - confesso-me (?!)-
deixo um pouco de mim;
longe de uma confissão,
este é um (es)pasmo
que não quero analisar.
Não me confesso;
mas de mim deixo
- mais de metade -
inimagináveis promessas
(prováveis sentimentos),
que não cabem em palavras.
Por agora.
Poesia de Paula Raposo
24 junho 2010
Beijo
Beijo arrebatado,
No prazer das línguas
Loucas, desenfreadas
Escondidas sob um lençol.
Beijo de fome
Sofreguidão de quem ama
E pela boca desfere
Sentimento bélico do bem
É a fome da língua que sente
A boca do verbo amar
É um beijo dado na alma
De quem ousa se transformar
E quando as línguas se tocam
Os corpos, abrasados, unificam-se
Saciando o instinto
Sem regras e normas.
Ah! Beijo…
Beijo penetrante e denso
Que faz a pele arrepiar
O desejo no ar suspenso
E as línguas na boca na hora de amar.
© Maria Escritos
Extraído do livro “Afrodite”
Das pessoas grandes
Calculo-te deitado e eu ainda era menina, por isso nada entendias do que eu dizia. Julguei que as pessoas falavam menos do que pensavam, por isso pouco se entendiam. Por isso falei tudo. Agora percebo que se tudo falar também pouco se entende.
Calculei-te sentado, os pés pesavam-te. E eu ainda era eu, tinha saias e um sol bordado no peito e flores bordadas no peito do vestido. Quando não tinha nada, sabia que podia ter tudo. Agora que tenho pouco, sei que há muito que não posso ter. Sei que os seios crescem mas que o peito talvez não. Cresci frágil, tímida, perdida em livros cheios de histórias. Cresceu-me o peito. Não quis ser frágil e perdi-me dos livros e eu cheia deles. Cresceram-me os seios. Mais frágeis são os vazios. Fiquei sem livros e agora quero-os tanto de volta que ainda me transformo num.
Tu foste adulto durante toda a minha existência. Os pais são assim. E agora que não me consigo habituar a ser adulta sem ti?
Calculei-te sentado, os pés pesavam-te. E eu ainda era eu, tinha saias e um sol bordado no peito e flores bordadas no peito do vestido. Quando não tinha nada, sabia que podia ter tudo. Agora que tenho pouco, sei que há muito que não posso ter. Sei que os seios crescem mas que o peito talvez não. Cresci frágil, tímida, perdida em livros cheios de histórias. Cresceu-me o peito. Não quis ser frágil e perdi-me dos livros e eu cheia deles. Cresceram-me os seios. Mais frágeis são os vazios. Fiquei sem livros e agora quero-os tanto de volta que ainda me transformo num.
Tu foste adulto durante toda a minha existência. Os pais são assim. E agora que não me consigo habituar a ser adulta sem ti?
Livro «Théatre Erotique de La Rue de la Santé» (1963)
23 junho 2010
Sobre os pecados contra a "castridade"
De há uns tempos a esta parte, tenho andado a ler o “Navegador Solitário”, de João Aguiar, autor que, infelizmente, faleceu algures nas páginas deste livro.
Como adolescente que se preze, Solitão vive obcecado por sexo e a sua primeira relação sexual redunda num acto frustrado, muito por causa do “piçarvativo”. Para piorar tudo, Solitão tem de enfrentar o padre Elias em confissão e é o trecho do relato desse episódio que aqui transcrevo. Ao lê-lo, depois de ter soltado uma gargalhada, achei que seria um excelente motivo para uma posta aqui no blog porcalhoto.
(…) resolvi ir confessar-me hoje e afinal acabei por ter uma discussão com o padre Elias.
Foi assim quando eu me ajoelhei e depois daquelas coisas que se dizem sempre no princípio, então quando é que te confessaste da última vez e tudo isso eu comecei a dizer os pecados e já se vê logo o primeiro foi o da castridade eo padre disse o quê e eu repeti e ele disse com ar chateado pronto já percebi mas tira-lhe o érre e eu é que não percebi logo e ele explicou mas já irritado porque o padre Elias está a ficar um bocado rabugento se calha é da idade e depois disse então fizeste coisas contra a castidade e foi sozinho ou acompanhado e eu respondi desta vez foi acompanhado e então ele perguntou foi com um rapaz ou com uma rapariga e eu respondi com uma rapariga e até aqui eu já estava habituado porque estas perguntas são sempre as mesmas a malta goza sempre com isso só que depois ele queria que eu lhe dissesse o que é que eu tinha feito e com quem e mais uma porção de coisas que eu acho que não deve ser normal perguntar e aí eu disse que não dizia porque afinal eu estava lá para me confessar a mim e não a miúda que essa podia ir confessar-se ela própria e além disso não queria contar os promenores e então o padre Elias ficou mais chateado e discutiu comigo e lá acabou por dar-me a besolvição mas depois deu-me de penitência rezar vinte terços aquilo foi vingança grande sacana e eu acho que não volto a confessar-me e afinal se a gente tem tesão por que é que há-de ser pecado.
O que eu não percebo é por que é que as coisas são assim está tudo muito mal feito se a gente não pode fazer amor nem dar pinocadas à vontade por que é que havemos de ter tesão se era só pra fazer filhos arranjava-se outra maneira e assim as pessoas podiam ter só os filhos que quisessem e se não quisessem não tinham nenhum era bem melhor mas a verdade é que temos tesão e isso afinal é que é o problema e já sei que esta noite não vou conseguir dormir."
Este é o diário de um miúdo púbere, com grandes dificuldades de expressão escrita e que vive atormentado por um contexto muito particular. Para além de se chamar Solitão Francisco e de lidar mal com isso, tem ainda de conviver com uma mãe e um pai em constante discussão e com perspectivas completamente opostas sobre a vida, uma tia com tanto de médium como de mexeriqueira, um avô que, apesar de ter falecido há já algum tempo, insiste em dar conselhos pouco escrupulosos ao seu neto e o facto de o seu melhor amigo ser toxicodependente e prostituto.
Como adolescente que se preze, Solitão vive obcecado por sexo e a sua primeira relação sexual redunda num acto frustrado, muito por causa do “piçarvativo”. Para piorar tudo, Solitão tem de enfrentar o padre Elias em confissão e é o trecho do relato desse episódio que aqui transcrevo. Ao lê-lo, depois de ter soltado uma gargalhada, achei que seria um excelente motivo para uma posta aqui no blog porcalhoto.
(…) resolvi ir confessar-me hoje e afinal acabei por ter uma discussão com o padre Elias.
Foi assim quando eu me ajoelhei e depois daquelas coisas que se dizem sempre no princípio, então quando é que te confessaste da última vez e tudo isso eu comecei a dizer os pecados e já se vê logo o primeiro foi o da castridade eo padre disse o quê e eu repeti e ele disse com ar chateado pronto já percebi mas tira-lhe o érre e eu é que não percebi logo e ele explicou mas já irritado porque o padre Elias está a ficar um bocado rabugento se calha é da idade e depois disse então fizeste coisas contra a castidade e foi sozinho ou acompanhado e eu respondi desta vez foi acompanhado e então ele perguntou foi com um rapaz ou com uma rapariga e eu respondi com uma rapariga e até aqui eu já estava habituado porque estas perguntas são sempre as mesmas a malta goza sempre com isso só que depois ele queria que eu lhe dissesse o que é que eu tinha feito e com quem e mais uma porção de coisas que eu acho que não deve ser normal perguntar e aí eu disse que não dizia porque afinal eu estava lá para me confessar a mim e não a miúda que essa podia ir confessar-se ela própria e além disso não queria contar os promenores e então o padre Elias ficou mais chateado e discutiu comigo e lá acabou por dar-me a besolvição mas depois deu-me de penitência rezar vinte terços aquilo foi vingança grande sacana e eu acho que não volto a confessar-me e afinal se a gente tem tesão por que é que há-de ser pecado.
O que eu não percebo é por que é que as coisas são assim está tudo muito mal feito se a gente não pode fazer amor nem dar pinocadas à vontade por que é que havemos de ter tesão se era só pra fazer filhos arranjava-se outra maneira e assim as pessoas podiam ter só os filhos que quisessem e se não quisessem não tinham nenhum era bem melhor mas a verdade é que temos tesão e isso afinal é que é o problema e já sei que esta noite não vou conseguir dormir."
Isto sem pontuação não é fácil de ler, pois não? Quase merecia um Nobel!
Desenho desanimado
Mulher em borracha faz uma dança do ventre rodando-se uma manivela
Um miminho oferecido pela São Patrício.
22 junho 2010
Vinho Amante
O teu corpo, meu amante, é vinho e êxtase. Quando te entornas sobre mim, dos teus olhos a arder, rompem-se pombas...
[um aberto poço]
Artéria grossa o sangue lateja,
Quarto, poema, deitado, poeta e bebedor.
Num só olhar teu, fecundas-me, um por um, os meus lábios, quentes, escarlates.
[A boca perversa pensa]
Vem, suplico-te,
Vem descobrir a pomba escondida na fenda da rocha...
[Blog Vermelho Canalha]
Inadiável
Deixaste-me sem palavras.
É um dom:
deixares-me sem palavras.
Não quer dizer
que sejas alguém especial
(lá por que me deixas sem palavras),
mas talvez sejas
o movimento imperceptível
da minha memória
escorrendo saudade;
um longo caminho desconhecido
que me abre alguma porta;
fazendo das palavras
o regresso.
E, desse dom (teu)
uma paixão inadiável.
Poesia de Paula Raposo
É um dom:
deixares-me sem palavras.
Não quer dizer
que sejas alguém especial
(lá por que me deixas sem palavras),
mas talvez sejas
o movimento imperceptível
da minha memória
escorrendo saudade;
um longo caminho desconhecido
que me abre alguma porta;
fazendo das palavras
o regresso.
E, desse dom (teu)
uma paixão inadiável.
Poesia de Paula Raposo
21 junho 2010
Comer Com Boca
A boca. Paralisa. Fecha-se. Come-te, o cavalo, o trovão. Nervo a nervo, uma massa em silêncio, no ar desesperado, a anestesia súbita. Poro com poro, no poro do poro, e sempre em rotação mó...
Canduras. Vermelhas correm no teu sangue, hesitado, no tesão que em ti voa, passa, come, no orvalhado que sentes desafogadamente.
O corpo tudo expõe. Tão agudo. Nos montes. Nu estendal, grave, tentas manter invisível o suco rebarbativo, lascivo, que queima. Quase... Quase... Doendo!...
A língua enrosca-se tendo por égide um pénis em adoração.
Tétrica convulsão, após o último beijo, que de tão maduro...
Splash!...
Rotação!...
Profundidade!... Deus!...
(e o orgasmo é aparição)
A boca. Nervo a nervo, a sorver a matéria, encharcada e nua até às pálpebras, num delírio, louco, que ensopa o tecto, o soalho, e as minhas devassas fantasias...
Canduras. Vermelhas correm no teu sangue, hesitado, no tesão que em ti voa, passa, come, no orvalhado que sentes desafogadamente.
O corpo tudo expõe. Tão agudo. Nos montes. Nu estendal, grave, tentas manter invisível o suco rebarbativo, lascivo, que queima. Quase... Quase... Doendo!...
A língua enrosca-se tendo por égide um pénis em adoração.
Tétrica convulsão, após o último beijo, que de tão maduro...
Splash!...
Rotação!...
Profundidade!... Deus!...
(e o orgasmo é aparição)
A boca. Nervo a nervo, a sorver a matéria, encharcada e nua até às pálpebras, num delírio, louco, que ensopa o tecto, o soalho, e as minhas devassas fantasias...
[Blog Vermelho Canalha]
Quadro (II) - Autocarros
Aqui, no agora, todos os pássaros pousaram. Os autocarros vão passando cheios de vazios que engoliram; já ninguém vê as pessoas. Os amantes não souberam amar nem sequer uma eternidade. O copo quase vazio, os corpos embriagados de lugares comuns. Um lobo uivou à lua entristecida confundindo-a com o reflexo no lago. Lá, no longe, o azul da lua tremeu. Não chores, minha lua pintada, não chores. Já chove.
20 junho 2010
Xadrez
A face magoada
apresenta-se de cor vermelha
- sangue vivo -
e pode doer ou não:
depende da perspectiva.
Cada dor tem a sua cor,
tal como cada face
apresenta a sua mágoa.
E, a face magoada,
traz o sangue vivo
- subjectivo -
doloroso de uma farsa;
marcado num trilho;
disfarçado de rei:
o xadrez do déspota.
Foto e poesia de Paula Raposo
apresenta-se de cor vermelha
- sangue vivo -
e pode doer ou não:
depende da perspectiva.
Cada dor tem a sua cor,
tal como cada face
apresenta a sua mágoa.
E, a face magoada,
traz o sangue vivo
- subjectivo -
doloroso de uma farsa;
marcado num trilho;
disfarçado de rei:
o xadrez do déspota.
Foto e poesia de Paula Raposo
Tradução do fundo
Quando estou aqui, olho em volta, olho o céu e sonho mais. Quando não estou aqui, estou a olhar em volta, a olhar o céu e a sonhar mais. E se tudo isto não for ainda estupidamente, absolutamente perfeito, ainda assim, será apenas porque é.
Posso não possuir o Mundo mas o Mundo, sim, o Mundo ainda me possui e o movimento ajoelha-me, pasmada, estupefacta, ofegante. E a lua, na solidão doce que me acolhe os medos desta imensidão que me tem, é ainda um milagre.
Não caí nem cairei na cegueira dos disciplinados pelo passar de horas de sessenta minutos que subtraem dos anos tudo menos o tempo. Eu ainda sei que tudo isto que me come, que me come a pele, que me come os dias, é de pasmar, é o Mundo, é o Reino, o dia que anoitece, a noite que amanhece, a brutalidade da existência nítida nestas retinas.
Entendes? Tudo isto que te digo consigo sentir. Não tenho garras nem âncoras para superfícies.
Posso não possuir o Mundo mas o Mundo, sim, o Mundo ainda me possui e o movimento ajoelha-me, pasmada, estupefacta, ofegante. E a lua, na solidão doce que me acolhe os medos desta imensidão que me tem, é ainda um milagre.
Não caí nem cairei na cegueira dos disciplinados pelo passar de horas de sessenta minutos que subtraem dos anos tudo menos o tempo. Eu ainda sei que tudo isto que me come, que me come a pele, que me come os dias, é de pasmar, é o Mundo, é o Reino, o dia que anoitece, a noite que amanhece, a brutalidade da existência nítida nestas retinas.
Entendes? Tudo isto que te digo consigo sentir. Não tenho garras nem âncoras para superfícies.
19 junho 2010
Muda
Há muito por aqui por Lamentar
e, ao mesmo tempo, tão pouco;
há sempre tão pouco.
Que dirias tu
se me soubesses sufocar,
assim? Um toque frio, louco
sobe pelo meu corpo.
Que farias tu
se me soubesses ainda abraçar?
Tristes, minhas, garras; o gesto rouco
sobe pelo ventre da voz
que despirias tu
até a nudez, calma, se silenciar,
nítida, na garganta de um mouco.
e, ao mesmo tempo, tão pouco;
há sempre tão pouco.
Que dirias tu
se me soubesses sufocar,
assim? Um toque frio, louco
sobe pelo meu corpo.
Que farias tu
se me soubesses ainda abraçar?
Tristes, minhas, garras; o gesto rouco
sobe pelo ventre da voz
que despirias tu
até a nudez, calma, se silenciar,
nítida, na garganta de um mouco.
18 junho 2010
A(s)sexuallidade
Flores... Mas eu gosto de cactos. Os cactos são bonitos, maravilhosos. Se gostares de cactos ou se não gostares de cactos, podes dizer-me porque é que ninguém gosta de cactos? (Alguém é pessoa).
A posta que sei mesmo
Eu sei o que é o amor.
Ou melhor, acredito nesse pressuposto com a mesma intensidade que outras pessoas dedicam à Fé.
Claro que não nasci ensinado e os pais nunca têm muito tempo ou jeito para nos explicar esse mistério da vida, pelo que lá fui percorrendo os caminhos ou os calvários que fazem parte do doloroso processo de aprendizagem que envolve tanta ruptura e subsequente desilusão.
É que os outros, no meu caso concreto as outras, também não nascem ensinados e nos primeiros tempos da paixão pode aplicar-se a velha máxima de que quando a pessoa não sabe dançar até parece que a pista está torta.
Esta fase, que julgamos sempre ultrapassada no final da tempestuosa adolescência, pode ser a responsável por tudo o que sabemos (ou não) acerca do amor. Mas também pode não fazer a mínima diferença.
E depois andamos, adultos, de volta das cábulas para não metermos o pé na argola outra vez.
Mas nem é o caso, o meu.
Eu sei o que é o amor.
Sei como o sinto, sei como o anseio, sei como o abraço como a única coisa digna de ser vivida ao longo do tempo que o acaso me oferecer.
Até acredito que sei como é isso do amor nos outros (nas outras, que eu sou muito cioso das minhas preferências), que o identifico no carinho de um gesto ou na luminosidade de um olhar.
São manias, bem sei, mas os outros acreditam no Divino e eu não me ralo nada com isso.
O amor não é visível, por ser um conceito abstracto, senão nas suas manifestações.
O que se faz e o que se deixa por fazer. O que se diz e o que se faz. O que se revela de empenho, de vontade, de necessidade, de resistência.
É esse o amor que se vê, que eu vejo com a clareza bastante para me arvorar da autoridade de dizer que sei o que é.
E depois há o amor que se faz na cama que não nos deixa mentir. O amor acaba por se exprimir no meio da voracidade carnal, é transparente, enquanto o sexo é amante mas acelera o coração por mera fadiga e a emoção é muito mais de arritmias.
E ainda há o amor incondicional, não é utopia, aquele que fala sempre mais alto do que os obstáculos e os sentimentos mesquinhos que lhe surjam pela frente, que o atrapalham, e nunca mente na hora de se provar genuíno, sem condições.
A sua sinceridade espontânea, coitado, até é o que o deixa, muitas vezes, em maus lençóis.
Ou melhor, acredito nesse pressuposto com a mesma intensidade que outras pessoas dedicam à Fé.
Claro que não nasci ensinado e os pais nunca têm muito tempo ou jeito para nos explicar esse mistério da vida, pelo que lá fui percorrendo os caminhos ou os calvários que fazem parte do doloroso processo de aprendizagem que envolve tanta ruptura e subsequente desilusão.
É que os outros, no meu caso concreto as outras, também não nascem ensinados e nos primeiros tempos da paixão pode aplicar-se a velha máxima de que quando a pessoa não sabe dançar até parece que a pista está torta.
Esta fase, que julgamos sempre ultrapassada no final da tempestuosa adolescência, pode ser a responsável por tudo o que sabemos (ou não) acerca do amor. Mas também pode não fazer a mínima diferença.
E depois andamos, adultos, de volta das cábulas para não metermos o pé na argola outra vez.
Mas nem é o caso, o meu.
Eu sei o que é o amor.
Sei como o sinto, sei como o anseio, sei como o abraço como a única coisa digna de ser vivida ao longo do tempo que o acaso me oferecer.
Até acredito que sei como é isso do amor nos outros (nas outras, que eu sou muito cioso das minhas preferências), que o identifico no carinho de um gesto ou na luminosidade de um olhar.
São manias, bem sei, mas os outros acreditam no Divino e eu não me ralo nada com isso.
O amor não é visível, por ser um conceito abstracto, senão nas suas manifestações.
O que se faz e o que se deixa por fazer. O que se diz e o que se faz. O que se revela de empenho, de vontade, de necessidade, de resistência.
É esse o amor que se vê, que eu vejo com a clareza bastante para me arvorar da autoridade de dizer que sei o que é.
E depois há o amor que se faz na cama que não nos deixa mentir. O amor acaba por se exprimir no meio da voracidade carnal, é transparente, enquanto o sexo é amante mas acelera o coração por mera fadiga e a emoção é muito mais de arritmias.
E ainda há o amor incondicional, não é utopia, aquele que fala sempre mais alto do que os obstáculos e os sentimentos mesquinhos que lhe surjam pela frente, que o atrapalham, e nunca mente na hora de se provar genuíno, sem condições.
A sua sinceridade espontânea, coitado, até é o que o deixa, muitas vezes, em maus lençóis.
Labirintos
São labirintos e labirintos,
linhas paralelas,
perpendiculares,
intersecções;
partidas e regressos.
São labirintos inesgotáveis
de partidas ansiadas
( regressos imaginados)
e o caminho faz-se
na volta reclamada
de um desejo incumprido.
Nunca gostei de labirintos.
Poesia de Paula Raposo
linhas paralelas,
perpendiculares,
intersecções;
partidas e regressos.
São labirintos inesgotáveis
de partidas ansiadas
( regressos imaginados)
e o caminho faz-se
na volta reclamada
de um desejo incumprido.
Nunca gostei de labirintos.
Poesia de Paula Raposo
17 junho 2010
40
Abres os olhos. Fechas e abres os olhos novamente. Outra vez. Estás confuso. Julgavas que estavas a sonhar. Vês tudo baço e dói-te a cabeça. Estás sentado à beira da cama. Olhas em redor com uma crescente sensação de asfixia. Sentes a falta de ar e o quarto parece ganhar vida. As paredes movem-se. Esbracejas. Bates com as palmas das mãos no colchão. As paredes, ora imóveis ora ondulantes, mudam de cor. Há uma de que gostas particularmente, tentas retê-la como se isso fosse importante mas não consegues. Irritas-te. Esqueces a cor. Esqueces as paredes. Estás assustado. Queres perceber se estás a fazer alguma coisa mal no acto de respirar pois não está a resultar. Não tens oxigénio nos pulmões. Lembra-te… Lembra-te… Ergues os braços. Ao longe, no que te parece muito ao longe, vês os teus pés nus a contorcerem-se sem tocarem o chão, não os sentes. Não és assim tão alto. Não percebes porque estão tão longe. Obrigas-te a pousa-los. Não sentes o frio do chão na planta dos pés. Não gostas. Inspiras. Tornas a inspirar. Os braços erguidos não resultam. O estares a inspirar repetida e profundamente também não. Não há ar. Não há paredes. Não há cores. Lembra-te. Foca-te. Esquece-te que não tens ar. Pensa noutra coisa qualquer. Não gostas de imperial com groselha mas, também, já ninguém bebe. Não resulta. Não achas que tenhas inspirado apesar de não estares a pensar nisso. Muda de estratégia: lembra-te. Lembra-te como respirar. Inspirar. Sentes-te desfalecer. Inclinas-te para trás ao sentir que te vais estatelar para a frente. Decides que vais deixar o álcool e as substâncias ilícitas. Hesitas. Recuas na tua decisão. Respirar é bom mas… e o resto? Impões uma condição: deixas o álcool e as substâncias ilícitas se te safares. Melhor, se te safares desta e enquanto te lembrares. Lembra-te! Não tens qualquer sentido de profundidade. As paredes vão-te comprimir até seres sumo. O tecto desce para te esmagar, no fim, ficarás uma panqueca seca. O tecto ainda não te tocou mas já te sentes a encolher. E o ar? Baixas os olhos. Vês os teus pés moverem-se aleatoriamente. Deixas cair os braços que tinhas esquecido erguidos. Pousas as mãos no colchão. Plástico. Olhas em volta. Plástico. Látex. Este quarto não é teu. Esta cama não é tua. Estás nu. Não tens roupa nem ar. As cores já não fazem sentido. Os sons diluem-se num burburinho incompreensível. Os gestos salpicam-se de actos falhados, de erros grosseiros. Sufocas. Vais desistir. Deixas de pensar. De ser. Vês o teu braço esquerdo erguer-se lentamente, em câmara lenta. Fechas o punho. Ar. Inspiras. Inspiras. Tosses. As paredes voltam ao lugar. O tecto sobe. Os pés sentem o chão frio. Tens de sair da cama. Levantas-te. Dás um passo e viras-te. Espantado, vês a cama e uma mulher. Incrédulo, recuas um passo, sobre a cama uma mulher num coleante fato negro de látex. Tem uma máscara que só te deixa ver os olhos. Brilhantes. Sorridentes. Satisfeitos. Segura na mão um plástico translúcido. O objecto da tua asfixia. Película aderente. Decides acrescentar as mulheres que usam película aderente com fins recreativos no que te está interdito. Inspiras. Sorris aliviado mas não mostras o sorriso: podes voltar a beber e a consumir substâncias ilícitas, o problema não estava aí: são as mulheres que usam película aderente fora da cozinha é que vais ter de evitar. Não percebes. Não percebes nada. “E como é que vou saber?” perguntas-te, baralhado.
– O quê? – pergunta-te a mulher.
– O quê, o quê? – repetes espantado, certo de não teres verbalizado a dúvida.
– O que é que não sabes como vais saber? – elucida-te ela, certeira, acabando definitivamente com a tua certeza de só teres pensado como é que irias reconhecer as mulheres que usam película aderente fora da cozinha.
Emites um som, um silvo agudo, enquanto bates no peito, como se isso te ajudasse a respirar, a inspirar. Pensas na resposta que podes dar mas ela antecipa-se e passa à frente voltando atrás:
– E então? – ouves perguntar. É uma voz interessada, preocupada, quer genuinamente saber. – Gostaste?
– Ah… – balbucias para não repetires o silvo agudo enquanto repões o oxigénio nos pulmões e tentas saber quem és e o que fazes ali. Ouves e observas com atenção mas não reconheces a voz, nem os olhos.
– Tínhamos combinado a mão direita – ouves a voz feminina dizer-te em tom meramente informativo – mas pareceu-me que era tempo a mais…
Estás parado a olhar para a cama, para ela na cama, para a cama no quarto, para ti ao lado da cama. Estás em pé. Vês que estás em pé e só consegues pensar na cama. As pernas fraquejam e obrigam-te a pensar na cama. Dás um passo e aproximas-te da cama. Devias sentar-te. Deitar-te. Na cama. Os olhos dela brilham mais. A custo, com sacrifício, manténs-te em pé junto à cama, como se isso fosse fundamental, essencial, vital. Custa-te. Não te deves sentar. Não deves regressar à cama, parece-te. Reparas no decote. No deslumbrante conteúdo do decote. Convences-te que Deus existe e tem bom gosto. Passas a mão pela boca para confirmar que não te estás a babar. Podias estar. Pões em causa a tua última decisão, provavelmente deves, tens!, de voltar à cama e nem todas as mulheres que manuseiam película aderente com destreza e para fins meramente recreativos merecem ser ostracizadas. Condescendes sem tirar os olhos do decote: deve ter havido um mal-entendido e ela merece uma segunda oportunidade.
– E, ainda por cima, não resultou – ouves a voz feminina concluir com um acentuado tom de desprezo e decepção, interrompendo-te na análise das tuas resoluções.
“O que é que não resultou?” pensas, tentando que os teus olhos se descolem da linha irresistível que se forma entre as mamas da mulher. “Eu ainda estar vivo?”
Cama. Fraquejas. Olhas para a cama. As pernas pesam-te. Olhas só para a cama. Suspiras profundamente. Dás um passo. Cansas-te. Estás em pé junto à cama. Não aguentas e encostas os joelhos à cama. Cama. Bem te podias sentar. Aproximar-te…
– É pena – ouves, ao mesmo tempo que sentes uma mão envolta em látex acariciar-te os testículos, puxar-te o pénis para baixo, levantá-lo. – Não sei o que te faça – diz a máscara com um risinho breve.
Estás dormente. Mais dormente. As pálpebras pesam e a visão turva-se. Passas a mão pela cara, para garantir que não estás novamente envolto em película aderente. Os joelhos fincam-se na parte lateral do colchão.
Ela dá-te palmadas nos testículos, enquanto te levanta o pénis. A mão enluvada agarra-o, aperta-o, sacode-o e bate-lhe. Nada.
– Não sei que raio de merda é esta – constata ela, friamente.
– Estou cansado – justificas num sussurro envergonhado.
Ela dá uma gargalhada forte, tonitruante, que te parece mal, muito mal.
– Não estou a falar nisso – diz ela, sem parar de rir.
Engoles em seco.
– Então?
Com a mão esquerda, ela encosta-te o pénis flácido ao corpo e, agarrando-os por baixo, exibe-te os testículos.
– Estou a falar disto – anuncia, trocista. – Do expurgo pintelhal.
– Do quê?
– Da depilação dos tomates! – Ela dá uma gargalhada, que interrompe: – Há alguém a mandar que se depilem?
– Não gostas?
– Parecem uns rapazitos – deprecia-te ela, examinando-te sem cuidado. – Pelo menos tu só rapaste os colhões… Menos mal!
Não respondes. Ainda não te lembras como vieste ali parar.
– E agora? – pergunta-te a mulher.
– Agora?
– Sim – responde ela com uma careta que não vês mas sentes no tom de voz e nas mãos que te largam. – E agora como é que vamos fazer?
– Fazer?
– Sim, e agora como é que me vais comer outra vez?
Olhas para baixo mas não para os pés – os pés não interessam nada: estão lá e sentem o chão, pronto. Ah! Tens de cortar as unhas, reparas.
– Não consigo… – lamentas lentamente em resposta.
– E com outra pessoa?! – replica ela, com estranha simpatia.
– Com outra pessoa?
– Disseste o “não consigo” tão devagar que parecia que tinha virgula – explica e imita com voz arrastada: – Não, consigo não.
– Eu não disse o segundo não.
– Parecia que ias dizer.
Ela leva as mãos à nuca e abre um pouco o fecho éclair que fecha a máscara atrás. Olhas ansioso com a possibilidade de a veres, de a reconheceres.
Ela pára e depois de te olhar atentamente pergunta mostrando os dentes num sorriso simpático:
– Tu não te lembras de nada, pois não?
Coças a cabeça com o indicador direito e acenas que não.
Ela ri sem troçar.
– Estás bem disposto? – pergunta.
– Estou – dizes depois de confirmares e te espantares por estares. – Mas não me lembro mesmo de nada – confessas. – O que é que aconteceu? Quem é a senhora?
– Uh… – arrepia-se a mulher. – Senhora?!... Depois de tudo o que passámos e fizemos juntos agora tratas-me por senhora?
– Eu não sei o que passámos, nem o que fizemos. – Sentes mais força nas pernas e desencostas os joelhos da cama. – Só me lembro de si a tentar matar-me por asfixia, mais nada.
– E de fazeres quarenta anos ontem?
– Ah… Vagamente… – reconheces.
– E do jantar? E da continuação do jantar? – Ela vai perguntando e tu vais acenando em jeito de pouco, lembraste pouco. – E a seguir? E a prenda?… E da minha prenda? – Ela senta-se com os pés fora da cama. – Nada?
– Pouco.
Ela levanta-se. Tu segue-la só com o olhar. Sentas-te na cama vazia. A mulher é linda. Grande e linda. Comprida e perfeitamente torneada. Tem uma cicatriz por trás do joelho direito. Vira-se para ti. Segura uma câmara de vídeo. Sentes que o ar se esvai novamente e que não o consegues repor. A câmara suga o oxigénio que te é necessário. Voltas a ver cores. Não. Vês apenas vários tons de cinzento. A mulher sorri-te.
– Ainda bem que filmámos tudo – diz. O plural enche-te os pulmões. – A noite dos teus 40 anos!
A mulher aproxima-se, sorridente. Retira uma pequena cassete da máquina. Estende-a na tua direcção. Beija-te na face.
– Parabéns – diz-te enquanto te beija. – Gostei muito… – diz-te quando te dá a cassete. Sorri. – E vais ver que tu também gostaste.
– O quê? – pergunta-te a mulher.
– O quê, o quê? – repetes espantado, certo de não teres verbalizado a dúvida.
– O que é que não sabes como vais saber? – elucida-te ela, certeira, acabando definitivamente com a tua certeza de só teres pensado como é que irias reconhecer as mulheres que usam película aderente fora da cozinha.
Emites um som, um silvo agudo, enquanto bates no peito, como se isso te ajudasse a respirar, a inspirar. Pensas na resposta que podes dar mas ela antecipa-se e passa à frente voltando atrás:
– E então? – ouves perguntar. É uma voz interessada, preocupada, quer genuinamente saber. – Gostaste?
– Ah… – balbucias para não repetires o silvo agudo enquanto repões o oxigénio nos pulmões e tentas saber quem és e o que fazes ali. Ouves e observas com atenção mas não reconheces a voz, nem os olhos.
– Tínhamos combinado a mão direita – ouves a voz feminina dizer-te em tom meramente informativo – mas pareceu-me que era tempo a mais…
Estás parado a olhar para a cama, para ela na cama, para a cama no quarto, para ti ao lado da cama. Estás em pé. Vês que estás em pé e só consegues pensar na cama. As pernas fraquejam e obrigam-te a pensar na cama. Dás um passo e aproximas-te da cama. Devias sentar-te. Deitar-te. Na cama. Os olhos dela brilham mais. A custo, com sacrifício, manténs-te em pé junto à cama, como se isso fosse fundamental, essencial, vital. Custa-te. Não te deves sentar. Não deves regressar à cama, parece-te. Reparas no decote. No deslumbrante conteúdo do decote. Convences-te que Deus existe e tem bom gosto. Passas a mão pela boca para confirmar que não te estás a babar. Podias estar. Pões em causa a tua última decisão, provavelmente deves, tens!, de voltar à cama e nem todas as mulheres que manuseiam película aderente com destreza e para fins meramente recreativos merecem ser ostracizadas. Condescendes sem tirar os olhos do decote: deve ter havido um mal-entendido e ela merece uma segunda oportunidade.
– E, ainda por cima, não resultou – ouves a voz feminina concluir com um acentuado tom de desprezo e decepção, interrompendo-te na análise das tuas resoluções.
“O que é que não resultou?” pensas, tentando que os teus olhos se descolem da linha irresistível que se forma entre as mamas da mulher. “Eu ainda estar vivo?”
Cama. Fraquejas. Olhas para a cama. As pernas pesam-te. Olhas só para a cama. Suspiras profundamente. Dás um passo. Cansas-te. Estás em pé junto à cama. Não aguentas e encostas os joelhos à cama. Cama. Bem te podias sentar. Aproximar-te…
– É pena – ouves, ao mesmo tempo que sentes uma mão envolta em látex acariciar-te os testículos, puxar-te o pénis para baixo, levantá-lo. – Não sei o que te faça – diz a máscara com um risinho breve.
Estás dormente. Mais dormente. As pálpebras pesam e a visão turva-se. Passas a mão pela cara, para garantir que não estás novamente envolto em película aderente. Os joelhos fincam-se na parte lateral do colchão.
Ela dá-te palmadas nos testículos, enquanto te levanta o pénis. A mão enluvada agarra-o, aperta-o, sacode-o e bate-lhe. Nada.
– Não sei que raio de merda é esta – constata ela, friamente.
– Estou cansado – justificas num sussurro envergonhado.
Ela dá uma gargalhada forte, tonitruante, que te parece mal, muito mal.
– Não estou a falar nisso – diz ela, sem parar de rir.
Engoles em seco.
– Então?
Com a mão esquerda, ela encosta-te o pénis flácido ao corpo e, agarrando-os por baixo, exibe-te os testículos.
– Estou a falar disto – anuncia, trocista. – Do expurgo pintelhal.
– Do quê?
– Da depilação dos tomates! – Ela dá uma gargalhada, que interrompe: – Há alguém a mandar que se depilem?
– Não gostas?
– Parecem uns rapazitos – deprecia-te ela, examinando-te sem cuidado. – Pelo menos tu só rapaste os colhões… Menos mal!
Não respondes. Ainda não te lembras como vieste ali parar.
– E agora? – pergunta-te a mulher.
– Agora?
– Sim – responde ela com uma careta que não vês mas sentes no tom de voz e nas mãos que te largam. – E agora como é que vamos fazer?
– Fazer?
– Sim, e agora como é que me vais comer outra vez?
Olhas para baixo mas não para os pés – os pés não interessam nada: estão lá e sentem o chão, pronto. Ah! Tens de cortar as unhas, reparas.
– Não consigo… – lamentas lentamente em resposta.
– E com outra pessoa?! – replica ela, com estranha simpatia.
– Com outra pessoa?
– Disseste o “não consigo” tão devagar que parecia que tinha virgula – explica e imita com voz arrastada: – Não, consigo não.
– Eu não disse o segundo não.
– Parecia que ias dizer.
Ela leva as mãos à nuca e abre um pouco o fecho éclair que fecha a máscara atrás. Olhas ansioso com a possibilidade de a veres, de a reconheceres.
Ela pára e depois de te olhar atentamente pergunta mostrando os dentes num sorriso simpático:
– Tu não te lembras de nada, pois não?
Coças a cabeça com o indicador direito e acenas que não.
Ela ri sem troçar.
– Estás bem disposto? – pergunta.
– Estou – dizes depois de confirmares e te espantares por estares. – Mas não me lembro mesmo de nada – confessas. – O que é que aconteceu? Quem é a senhora?
– Uh… – arrepia-se a mulher. – Senhora?!... Depois de tudo o que passámos e fizemos juntos agora tratas-me por senhora?
– Eu não sei o que passámos, nem o que fizemos. – Sentes mais força nas pernas e desencostas os joelhos da cama. – Só me lembro de si a tentar matar-me por asfixia, mais nada.
– E de fazeres quarenta anos ontem?
– Ah… Vagamente… – reconheces.
– E do jantar? E da continuação do jantar? – Ela vai perguntando e tu vais acenando em jeito de pouco, lembraste pouco. – E a seguir? E a prenda?… E da minha prenda? – Ela senta-se com os pés fora da cama. – Nada?
– Pouco.
Ela levanta-se. Tu segue-la só com o olhar. Sentas-te na cama vazia. A mulher é linda. Grande e linda. Comprida e perfeitamente torneada. Tem uma cicatriz por trás do joelho direito. Vira-se para ti. Segura uma câmara de vídeo. Sentes que o ar se esvai novamente e que não o consegues repor. A câmara suga o oxigénio que te é necessário. Voltas a ver cores. Não. Vês apenas vários tons de cinzento. A mulher sorri-te.
– Ainda bem que filmámos tudo – diz. O plural enche-te os pulmões. – A noite dos teus 40 anos!
A mulher aproxima-se, sorridente. Retira uma pequena cassete da máquina. Estende-a na tua direcção. Beija-te na face.
– Parabéns – diz-te enquanto te beija. – Gostei muito… – diz-te quando te dá a cassete. Sorri. – E vais ver que tu também gostaste.
Lançamento do Livro "AFRODITE" - Convite
A Editora Lugar da Palavra e a Autora convidam V. Ex.ª e família a estar presente no lançamento do livro AFRODITE, de Paula Moreira (Maria Escritos) a realizar no dia 3 de Julho pelas 21,30h na Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim (Rua Padre Afonso Soares).
Apresentação do livro e da Autora por Elvira Almeida e Augusto Canetas.
Esta obra que tem o apoio da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, tem agendado ainda um pré-lançamento a realizar no dia 27/06 no Clube Literário do Porto.
Paula Moreira (Maria Escritos) é natural do Porto, mas adoptou a Póvoa de Varzim para sua residência. A sua escrita surge como complemento às artes decorativas, actividades que mantém como hobbie.
"Afrodite", é uma obra de poesia de carácter erótico, totalmente dedicada ao Amor, pelo Amor de Amar.
Para além dos trabalhos da autora, este livro de 64 páginas contém fotos de Nuno de Sousa (Fotógrafo) e Aurélio Mesquita (Argo).
"Deliciosamente ligada à Mitologia Grega através da heroína AFRODITE, Deusa Grega da Beleza e do Amor e cuja origem é contada na Introdução deste Volume, cada poesia, cada letra escrita, vai ligando, num elo indissociável, os vários factos mitológicos que levam ao Amor/Paixão, ao Amor Sexual.
Este Livro de Paula Moreira, vai contribuir para que seja dado mais um passo importante no sentido de, mais do que difundir o Amor, reinventar o AMOR!"
Elvira Almeida
Pequeno depoimento de duas bolas
No último encontro d'a Fundasão recebi duas bolas cor de rosa presas por um cordelinho.
Fiquei a saber que servem para exercitar os músculos vaginais.
Foi com grato prazer que concluí (depois da experiência) que os meus músculos estão em plena forma.
Pelo que me apercebi, as bolas não caíram e até foram subindo...
Felizmente que existe o cordelinho para puxar.
A Vânia Beliz também me explicou que não convém usar durante muito tempo porque podemos ficar inflamadas e isso não é bom.
Obrigada, São, por seres sempre tão atenciosa com as tuas amigas: mais um presentinho para a minha colecção!
Fiquei a saber que servem para exercitar os músculos vaginais.
Foi com grato prazer que concluí (depois da experiência) que os meus músculos estão em plena forma.
Pelo que me apercebi, as bolas não caíram e até foram subindo...
Felizmente que existe o cordelinho para puxar.
A Vânia Beliz também me explicou que não convém usar durante muito tempo porque podemos ficar inflamadas e isso não é bom.
Obrigada, São, por seres sempre tão atenciosa com as tuas amigas: mais um presentinho para a minha colecção!
16 junho 2010
Pequena Carta do Homem à Mulher
No teu olhar o canto ardido das palavras, essa força sensual onde se vertem numa fremente desarrumação, o verbo sibilante, paixão.
Esses olhos que me olham em pólvora de tão perto que eu ardo nessa massa imensa de poemas.
Alvura perdida onde por vezes morro de silêncio na quebrada dos quatros elementos desse teu olhar ardente.
Uma fantasia nunca esquece o orgão doce de cabelo quente, que nos enlaça nos quadris negros e molhados. A loucura tem mel, o teu, algures quieto á espera duma largura afogada. É inocente a teia sensível da desordem com que tu me tocas, no escuro , por esse canal vivo de coroa em labaredas...
O meu pénis abraça-te no poema que aqui para ti soletro. Tu sempre incendeias a carne suada que se desfaz na semente grave. O corpo é um forno de sexo, o teu, ânus uma queimada onde se morre na ardência vertical, demoníaca .
Meu sonho mulher, é morrer entre o côncavo lume implacável arfando no remoinho cego, baixo e violento.
Esses olhos que me olham em pólvora de tão perto que eu ardo nessa massa imensa de poemas.
Alvura perdida onde por vezes morro de silêncio na quebrada dos quatros elementos desse teu olhar ardente.
Uma fantasia nunca esquece o orgão doce de cabelo quente, que nos enlaça nos quadris negros e molhados. A loucura tem mel, o teu, algures quieto á espera duma largura afogada. É inocente a teia sensível da desordem com que tu me tocas, no escuro , por esse canal vivo de coroa em labaredas...
O meu pénis abraça-te no poema que aqui para ti soletro. Tu sempre incendeias a carne suada que se desfaz na semente grave. O corpo é um forno de sexo, o teu, ânus uma queimada onde se morre na ardência vertical, demoníaca .
Meu sonho mulher, é morrer entre o côncavo lume implacável arfando no remoinho cego, baixo e violento.
[Blog Vermelho Canalha]
Rabiscos
Caso venhas, não me digas...
Perguntarei ao tempo que nada me dirá.
Que o tempo sabe que prefiro sentir-te chegar.
Caso chegues, não me digas...
Em todas as vezes, prefiro sentir-te chegar.
Porque assim saberei se ainda és tu quando chegas.
Caso não venhas nunca mais, não me digas...
Perguntarei à saudade que nada me dirá.
Que a saudade sabe que prefiro não saber.
Porque assim saberei que já não sou eu nunca mais
no dia em que já não existir saudade a quem perguntar por ti.
Agora que já te disse, já sabes.
Agora que já sabes já podes tudo o que não digas.
Eu já posso escutar os mudos traços que não digas
às gavetas do meu corpo emprestados.
Gavetas destas nunca estão cheias, estão abertas e antes
espalham-se pelas casas intermináveis, de cheiros intermináveis.
Caso me toques, não me digas.
Perguntarei ao peito que nada me dirá
que o peito sabe que prefiro sentir-te tocar
cara a cara, olharei o meu corpo
se estiver nu, eu despi.
Caso me olhes, não me digas.
Olhar-te-ei sem nada perguntar.
Perguntarei ao tempo que nada me dirá.
Que o tempo sabe que prefiro sentir-te chegar.
Caso chegues, não me digas...
Em todas as vezes, prefiro sentir-te chegar.
Porque assim saberei se ainda és tu quando chegas.
Caso não venhas nunca mais, não me digas...
Perguntarei à saudade que nada me dirá.
Que a saudade sabe que prefiro não saber.
Porque assim saberei que já não sou eu nunca mais
no dia em que já não existir saudade a quem perguntar por ti.
Agora que já te disse, já sabes.
Agora que já sabes já podes tudo o que não digas.
Eu já posso escutar os mudos traços que não digas
às gavetas do meu corpo emprestados.
Gavetas destas nunca estão cheias, estão abertas e antes
espalham-se pelas casas intermináveis, de cheiros intermináveis.
Caso me toques, não me digas.
Perguntarei ao peito que nada me dirá
que o peito sabe que prefiro sentir-te tocar
cara a cara, olharei o meu corpo
se estiver nu, eu despi.
Caso me olhes, não me digas.
Olhar-te-ei sem nada perguntar.
a t-shirt oficial do Pride 2010
É para o menino e para a menina! ahhh e para o S. também (que a diversidade é coisa que se aprende desde cedo)
O design é do Duke (a minha vénia) e a estampagem é da responsabilidade da loja mais catita da Rua da Madalena, ARMENIOS!
digam lá que eu e meu J. não vamos fazer um sucesso no Arraial?
___________________Nota da ediSão - desenhei em 2009 uma t-shirt para o Arraial Pride, que continua à venda aqui.
15 junho 2010
Pequena Carta da Mulher ao Homem
Existe um lugar em mim onde a tua sombra é minha gémea , quente e rápida, escarlate.
Por vezes sinto que é de ti que me vem fogo, outras sinto o ardor guardado numa metáfora, que voa num salto para o centro. Falo-te de paisagens inclinadas onde o flanco deixa o sal, onde o desejo é legítimo e o amor por vezes muito confuso. Imagino tocar-te na boca, sem boca e meter-te na boca o leite, o fogo e um grito sem ter que tocar. Minha mão num poema a colher de ti, o que a outra mão tocou, onde o desejo se abriu e a cauda redonda se desenrola através da plumagem ardente. Um sentir a sentir o apalpar girar profundo, a polir a grande flor, a saborear mel. A voz respira pelo orifício a meio amarrado em torno do sexo intenso, o som ressoa para dentro, imaginar que a água tem som.
Belo é o sentir e belo é o vir do correr obscuro, do sangue que brota do fruto de forma esférica, descendo fundo do profundo lago parado...
Por vezes sinto que é de ti que me vem fogo, outras sinto o ardor guardado numa metáfora, que voa num salto para o centro. Falo-te de paisagens inclinadas onde o flanco deixa o sal, onde o desejo é legítimo e o amor por vezes muito confuso. Imagino tocar-te na boca, sem boca e meter-te na boca o leite, o fogo e um grito sem ter que tocar. Minha mão num poema a colher de ti, o que a outra mão tocou, onde o desejo se abriu e a cauda redonda se desenrola através da plumagem ardente. Um sentir a sentir o apalpar girar profundo, a polir a grande flor, a saborear mel. A voz respira pelo orifício a meio amarrado em torno do sexo intenso, o som ressoa para dentro, imaginar que a água tem som.
Belo é o sentir e belo é o vir do correr obscuro, do sangue que brota do fruto de forma esférica, descendo fundo do profundo lago parado...
[Blog Vermelho Canalha]
Fuga
Os laços magoam, apertam,
conseguem calar - aqui -
a voz silenciosa
da dispersa fuga.
Aí, retrocedemos,
queremos ser nós - de novo -
e a impossibilidade
tolhe os movimentos.
Não quero laços.
Não quero ser tolhida.
- Não retrocedo.
Poesia de Paula Raposo
conseguem calar - aqui -
a voz silenciosa
da dispersa fuga.
Aí, retrocedemos,
queremos ser nós - de novo -
e a impossibilidade
tolhe os movimentos.
Não quero laços.
Não quero ser tolhida.
- Não retrocedo.
Poesia de Paula Raposo
14 junho 2010
A prostituta azul (VI)
O homem mais nu de todos não tirou a roupa, não tirou a roupa. Estava despido dele. Queria a pele de volta. A pele rasgou-se como os tempos. Tantos homens atravessavam, vazios; atravessavam vazios. Chegou aqui. Pedia o seu eu, que lhe encontrasse o eu, um eu que pudesse ser. Um eu qualquer. Depois, leu na pena que orbitava sob as pestanas da mulher. Já era um qualquer. Sem um eu. A fúria chorou muito. Guinchava o desalme. O desalme guinchava. Estava sozinho sem alma. Estava sozinho, sem alma. Estava, sozinho, sem alma. E viu a alma da mulher na frente dele, de porta entreaberta e janela bem fechada. A fúria cantava alto. Baixou as calças pelos joelhos e deitou-lhe a mão aberta à cara, os dedos aos olhos. Uma alma cega pode ser extraída. Dizem que as prostitutas são muito fundas e, por isso, conseguem esconder a alma em sítios que não se podem alcançar. Sujou-a muito; o órgão pendia, absurdo. O corpo na sua frente, de alma ausente, percebeu. Julgou-a desalmada. Riu. Atirou os papelinhos coloridos de feio, muitos, ao chão e saiu, a gargalhar fúria, gozo, feliz. A prostituta fechou a porta entreaberta e chamou a alma de volta. O seu trabalho estava concluído, tinha vendido mais uma ilusão.
XIII Encontra-A-Funda - uma cedilha na Pica
fui-me à Pica a Cucujães para um encontro de pica
com alguns filhos e mães que a saudade fornica
pelo caminho a cedilha que no bolso transportava
cravou-se-me na virilha - dali não sai nem por nada
há pois cedilhas danadas que num encontro de amigos
em se sentindo encostadas só olham p’ra seus umbigos
esta então - e por preceito - lança em redor atenção
a todo o umbigo de jeito - o que faz sem contenção
é pois cedilha das finas - veio à Pica por prazer
a fazer-se de menina que dá bola até sem querer
à cautela então te peço
amiga se me abraçares
mede o aperto que eu meço
não vá ela dar-se a ares
e em momento perverso
quando menos esperares
vai-se a cedilha à Taberna
bebe uns copos fica terna
e pede-te para a agarrares
que ela é cedilha com pica
indómita - garganeira
se lhe tocas ela estica
cola-se à Pica matreira
… e fica de outra maneira
quem na viu – quem na sentiu nessa nova condição
da cedilha garantiu ser ponto de exclamação!
- No rescaldo da XIII Encontra-A-Funda – 12 e 13 de Junho de 2010 - outro momento bem passado, na Taberna da Pica, algures entre Cucujães e a Oitava Avenida...
com alguns filhos e mães que a saudade fornica
pelo caminho a cedilha que no bolso transportava
cravou-se-me na virilha - dali não sai nem por nada
há pois cedilhas danadas que num encontro de amigos
em se sentindo encostadas só olham p’ra seus umbigos
esta então - e por preceito - lança em redor atenção
a todo o umbigo de jeito - o que faz sem contenção
é pois cedilha das finas - veio à Pica por prazer
a fazer-se de menina que dá bola até sem querer
à cautela então te peço
amiga se me abraçares
mede o aperto que eu meço
não vá ela dar-se a ares
e em momento perverso
quando menos esperares
vai-se a cedilha à Taberna
bebe uns copos fica terna
e pede-te para a agarrares
que ela é cedilha com pica
indómita - garganeira
se lhe tocas ela estica
cola-se à Pica matreira
… e fica de outra maneira
quem na viu – quem na sentiu nessa nova condição
da cedilha garantiu ser ponto de exclamação!
- No rescaldo da XIII Encontra-A-Funda – 12 e 13 de Junho de 2010 - outro momento bem passado, na Taberna da Pica, algures entre Cucujães e a Oitava Avenida...
13 junho 2010
O resto
Falo-te de algo que não sabes,
como uma borboleta que nasce
e tu não entendes o sentido
- falo-te na mesma -,
nessa tua exaustão alheada.
Não conheces por que não queres;
não te interessa (finges que lês);
não prestas a mínima atenção:
mas eu falo-te, mesmo assim.
Um dia regressas.
As palavras pouco podem
explicar,
nada significam.
Da partida nada resta.
O resto: nada representa.
Foto e poesia de Paula Raposo
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