24 junho 2010

Das pessoas grandes

Calculo-te deitado e eu ainda era menina, por isso nada entendias do que eu dizia. Julguei que as pessoas falavam menos do que pensavam, por isso pouco se entendiam. Por isso falei tudo. Agora percebo que se tudo falar também pouco se entende.

Calculei-te sentado, os pés pesavam-te. E eu ainda era eu, tinha saias e um sol bordado no peito e flores bordadas no peito do vestido. Quando não tinha nada, sabia que podia ter tudo. Agora que tenho pouco, sei que há muito que não posso ter. Sei que os seios crescem mas que o peito talvez não. Cresci frágil, tímida, perdida em livros cheios de histórias. Cresceu-me o peito. Não quis ser frágil e perdi-me dos livros e eu cheia deles. Cresceram-me os seios. Mais frágeis são os vazios. Fiquei sem livros e agora quero-os tanto de volta que ainda me transformo num.

Tu foste adulto durante toda a minha existência. Os pais são assim. E agora que não me consigo habituar a ser adulta sem ti?

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