A mulher aproximou-se lentamente conferindo com prazer a minha atenção e, demorando os passos com que me atravessou, sussurrou sensual:
– Gosto da tua barba.
Não respondi. Olhei-a de esguelha e levei o copo meio vazio à boca, despejando-o. Já nos tínhamos visto e trocado olhares mas havia um indivíduo que a acompanhava e que ficara parado, conversando com outros e controlando com alheamento ensaiado os seus passos até ao balcão.
Olhei para o meu copo vazio, para o indivíduo que não reparara em mim, nem se apercebera das palavras que ela me dirigira, e, agitando o copo, dei meia volta para ir buscar outra bebida.
Pousei o copo vazio no balcão, a alguma distância da mulher, que me viu mas nada fez, tal como eu. Esperei que o empregado se aproximasse dela e, só então, me aproximei dela.
– Quero um Absolut Citron com limão – pedi, depois de ela ter feito o seu pedido.
O empregado afastou-se para ir buscar as bebidas e ela falou-me sem quase olhar para mim:
– Essa barba… Hummm… Gostava de a ter a roçar-me o interior das coxas. De a sentir nos grandes lábios enquanto me comias com a língua, enquanto me chupavas… Hummm… – ronronou.
– Gostava disso – disse, também sem a olhar. – Gostava muito disso.
– E o resto do corpo também está assim? – perguntou-me num murmúrio.
O empregado aproximou-se com dois copos para ela e um copo para mim. Agradecemos e ele afastou-se de imediato.
– Algumas partes estão – disse.
Ela beberricou um dos copos e ciciou:
– Gostava de ver isso. Gostava muito de ver isso.
Piscou-me o olho, enquanto se virava para a sala, abriu um sorriso descarado para o homem que a esperava e afastou-se, deixando-me a contemplar-lhe o magnífico andar, a extraordinária silhueta e a forma perfeita das nádegas.
Pouco depois, quando um fotógrafo se aproximou, juntaram-se, sorriram e mostraram a sua “cumplicidade evidente” que havia de ser a legenda da fotografia na revista cor-de-rosa.
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