17 outubro 2010

Hipnagógico

Quando estou naquele não estar, só respiro;
aquele, sim, em que tantas vezes me vês
aquele que nunca te sei explicar, eu nego
o que sei uma e outra e ainda outra vez
e rodo, boneca tonta a esbracejar assustada
e faço perguntas ao azul do meu pássaro,
só ao azul porque o pássaro já está cego
tantas penas o cegaram. Morreu. Suspiro,
eu bem sei que também estou ferida
e os dias continuam a passar; os três
cada vez mais despidos da manhã, o logo
cada vez mais nascido das trevas; retiro
a pergunta com medo, eu sei, mas através
dos joelhos no chão logo me vejo puxada
pelos fios das novas matemáticas. Juro
que nada sei e não me largam. O fogo
aponta-lhes todas as paredes e eu, cercada,
acordo bem viva e fugirei para o grande lago,
espera-me lá o meu pássaro azul tão escuro.


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