O homem velho, pequeno, gorducho, perdia-se na imensidão da enorme cama que tinha exigido. Agora, já nu, não parecia tão seco no contraste do luxo do quarto com a nudez mirrada que o espelho parecia querer reflectir ostensivamente; os espelhos divertem-se sempre a ampliar o que nos mirra, a aumentar o que nos diminui. Parecia um bebé muito feio, apatetado, absurdo em lençóis de cetim; tanto luxo, tanto luxo e a pele vazia até de ar. Olhava-o com a ternura que a fragilidade lhe inspirava, a ternura dedicada aos que são pobres de espírito, aos que no fim das idades se apercebem iguais aos outros apesar da carga pesada de papelinhos coloridos de feio nos bolsos; a ternura dedicada aos que, por só no fim da idade se perceberem iguais, são - porque são e porque se sentem - ainda menores; a ternura dedicada às crianças de tolice egocêntrica a quem tentamos explicar a empatia porque é raiz da árvore do carácter. E os olhos dispararam, na direcção do velho, a nostalgia carregada nas pupilas. Debateu-se no cetim, atordoado, encolhido, pequeno e chorou. O bebé muito feio. Chorava. Chorava para não morrer já. Deitou-o no colo e embalou-o. "Pequenino, meu pequenino, todos os pássaros terminam em penas porque viveram a voar. Nós vivemos em penas para terminarmos em voo." Embalou, embalou, embalou e o homem estremeceu e sossegou. Foi então que lhe agarrou nos seios para se alimentar...
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Uma por dia tira a azia